As reformas na previdência ao redor do mundo

Tulio Tavares
Revista Subjetiva
Published in
3 min readApr 26, 2017

A reforma da previdência é polêmica em vários países. Obviamente que nós, seres humanos, temos dificuldades em lidar com mudanças. É previsível todo receio e rejeição à uma reforma dessas, mas para além disso, a reforma da previdência brasileira é imposta sem diálogo, ou seja, autoritária e sem uma auditoria independente que nos mostre os verdadeiros números.

Uma auditoria que fosse muito próximo ao que o governo Temer tenta mostrar, o que não é a realidade, se não já o teriam feito. Mesmo assim, seria de grande receio. A gente muda o que perde a validade, mas temos dificuldades em mudar o que ainda não perdeu. Como já dizia Jaiminho, o carteiro da série Chaves, “evitamos ao máximo possível a fadiga”.

Na França, em meio ao primeiro turno, chamou a atenção um candidato considerado de extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon, que despontou nas pesquisas naquele cenário, e a candidata de extrema direita, Marine Le Pen, que caiu nas intenções de voto por escândalos de corrupção, mas permaneceu entre as favoritas durante o primeiro turno e foi para o segundo com o candidato de centro-direita, Emmanuel Macron. Ambos os candidatos, tanto Mélenchon como Le Pen, defendem a mudança na idade mínima da aposentadoria de 65 para 62 anos. Ou seja, regredir uma base da última reforma previdenciária francesa.

O candidato de extrema esquerda teve um expressivo número de eleitores jovens, insatisfeitos com o limite mínimo da idade atual para se aposentar. O que tudo isso quer dizer? Que os franceses, inclusive os jovens que levaram um candidato a brigar pelo segundo turno nos 45 do segundo tempo, não estão sabendo lidar com as mudanças, no caso previdenciária? Pode até ser. Mas a França, como um país onde a reforma já está consolidada, nos remonta mais a ideia de que a maneira que se acredita atualmente, especificamente a previdenciária, talvez não seja a mais eficaz. A maneira que foi feita, não deu tão certo, e é alvo de críticas e descrédito, mesmo que consolidada.

Um país como o Brasil, considerado em desenvolvimento, em que os fenômenos como a expectativa de vida vem em seguida aos chamados “desenvolvidos”, talvez os governos como o de Temer, deveriam analisar não só o que fazem os governantes dos países como os europeus, como também os efeitos e a maneira que está sendo encarada tais efeitos. Seguindo o exemplo francês, não quero dizer que não teríamos uma idade mínima, e sim que a idade mínima no quase pé na cova de nossa gente, não seja o caminho.

Tal questão abordada no parágrafo anterior me traz uma reflexão. A gente não só tem medo de reformas. Não temos apenas governos prepotentes que não saem da teoria e do “espírito colonizador máximo”, como temos dificuldades em reconhecer que novas mudanças deverão acontecer para além da atual, e que portanto, tudo pode ser feito aos poucos. Um exemplo: a idade mínima não precisa hoje ser de 65. Amanhã se precisar, que seja feita, mas o receio de uma reforma amanhã persiste como a de hoje não só para meros cidadãos como nós, em ter que lidar tudo de novo com inseguranças, como também para a classe política partidária hegemônica que além de mudanças, tem o medo de que os interesses da reforma que virão para além da atual, não acompanhe a de hoje que representa seus interesses.

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