A realidade de um novo mundo se impõe em A Nuvem Rosa — o ensaio cinematográfico sobre a pandemia

Gabriel Caetano
Revista Subjetiva
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3 min readSep 24, 2021

A obra que parecia, em sua concepção, um ensaio sobre relações e adaptação acabou totalmente ressignificada pela pandemia do covid-19. A Nuvem Rosa retrata um mundo assombrado por um fenômeno inédito que impede as pessoas de saírem de casa. Iuli Gerbase, roteirista e diretora, começou a escrever seu argumento em 2017. Profecia pouca é bobagem. O filme é ainda mais preciso em suas descrições ao retratar a turbulenta dinâmica que duplas em isolamento atravessaram nos últimos meses (culminou numa onda de divórcios).

Quando repentinamente nuvens cor-de-rosa aparecem no céu, Giovana e Yago se conheceram uma noite e acabaram juntos no apartamento dela. A propriedade tóxica das nuvens é capaz de matar em questão de 10 segundos, e assim, pessoas do mundo inteiro se trancaram em casa.

Com o tempo, especialmente após o nascimento de um filho durante o isolamento, os conflitos de Giovana e Yago, que agora são um casal, conduzem o relacionamento ao seu limite. A nuvem permanece por meses, anos e os dois continuam a ser expostos a situações que os transformam e acentuam suas diferenças. Ambos os protagonistas exageram em suas reações, embora pareça que Giovana seja mais afetada e momentos de descontrole começam a ser comuns.

Analisando A Nuvem Rosa, é um exercício interessantíssimo imaginar todos os processos que envolveram a realização do filme. Especialmente na pós-produção, onde desdobramentos da crise do coronavírus podem ter interferido em seu resultado final. Mesmo com a apresentação de um disclaimer em seu início que aponta para as coincidências entre realidade e ficção, seu conteúdo fica indissociável do momento.

Se o contexto global entrou em processo de simbiose com o filme de Iuli, a autora demonstra um afiado entendimento da nossa sociedade e seus vícios. Sua leitura se provou certeira não só no que diz respeito à saúde mental e comportamento humano, como também às demandas e necessidades humanas que ganham artífices em personagens terceiros. Por isso, é importante destacar a inventividade da diretora gaúcha na criação de seu ensaio que não se perde na polifonia e servirá como um registro importante desse tempo.

Dirigido por Iuli Gerbase (2021); Cinematografia de Bruno Polidoro; Com Renata de Lélis, Eduardo Mendonça, Kaya Rodrigues, Helena Becker, Girley Paes e Gabriel Eringer.

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Gabriel Caetano
Revista Subjetiva

Publicitário que escreve sobre arte e entretenimento. Desde 09 tô na internet falando do que gosto (e do que não gosto) para quem possa gostar (ou não) também.