A república da caneta

De todos os lobbys do presidente, o da Bic triunfou

Luan Oliveira
Revista Subjetiva
4 min readFeb 4, 2019

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Montblanc — no país onde a caneta Stabilo é considerada acessório de ostentação, a marca alemã é a que domina os salões presidenciais desde que se tem por vista no tempo. O presidente Lula, que se deixou ser fotografado com isopor de bebidas na cabeça durante o mandato, usou uma Montblanc de ouro para assinar seu termo de posse. Bolsonaro, em contrapartida, usou uma Compactor marca econômica e 100% nacional. Na boca do povo, o mito usou Bic. Bic será.

Diversos parlamentares do partido do presidente, o PSL, e de outros que formam sua base governista mimetizaram o gesto. Foi a farra das Bics dentro dos salões do poder. Ou ao menos até onde alcança um jornalista ou fotografo.

Matéria que acumula diversos adjetivos dispares — entre eles inusitada, pertinente e simbólica — foi a do Poder 360, onde foi veiculada uma sequencia de fotos de Davi Alcolumbre assinando os despachos no dia em que assumiu o cargo de presidente do Senado. O parlamentar começa assinando com a caneta do secretário-geral da mesa, então encara a caneta e decide que aquilo não é a imagem que quer transmitir. Pede uma mais simples, a recebe. No derradeiro momento em que finaliza a assinatura lhe é repassada uma terceira caneta — tipo Bic.

Sérgio Lima — Poder 360

Bolsonaro já foi além do ato de usar a caneta, mencionou ela diretamente em mais de uma ocasião. Em um dos exemplos, diz que irá usar “caneta Bic” contra quem carregar consigo grave denuncia. Graças a Deus seu filho não tem cargo oficial no governo — ou seria uma das primeiras vitimas da tal bicada.

A era das canetas Bics na política nacional é nova — mas o fenômeno do populismo barato, não. Em uma demonstração de abnegação com o povo, a presidente Dilma Rousseff fez o corte de oito ministérios e reduziu o seu próprio salário no ano de 2015. Não foi muito efetivo. O povo brasileiro continuou pedindo seu impeachment e, aparentemente, descobriram que ministérios não só tem valores geralmente irrisórios no escopo geral das finanças públicas, como prestam serviços essenciais para a população.

Uma caneta Montblanc, que sai do bolso do próprio governante, sai a partir de R$ 600 até cifras na casa das dezenas de milhares. A previdência atualmente está em aproximadamente R$ 767,8 bilhões — o triplo dos gastos com saúde. A reforma da previdência não está entre os itens prioritários do governo Bolsonaro.

Apesar do estado das contas públicas, o governo prefere priorizar outras reformas que não as da previdência e tributária. Já foram feitas duas: a das canetas, supracitada, e a bizarra reforma das cadeiras comunistas do Palácio da Alvorada. O vermelho maligno e conspirador dos tempos sociais-democratas foi substituído pelo azul republicano. Ave rex publica!

Daniel Marenco — O Globo

A prioridade do governo Bolsonaro até agora aparenta ser a mesma dos seus antecessores: a reeleição. Atos populistas aqui e ali constituem o bordado da presidência da república nesses primeiros dias. A reforma da previdência é discutida graças ao antigo ocupante do palácio: Temer fez um ótimo e enérgico trabalho de relações públicas pontuando a importância das reformas para o bem estar financeiro do país. Constatar isso é fácil: a reforma era demonizada nos primeiros dias, ao fim do governo Temer, era tida como essencial — o que de fato é.

Não confundir coisas inerentes a existência da instituição da Presidência da República e do Governo Federal como méritos do governo Bolsonaro — que até agora nada fez além de escandalizar e exercer o nobre cargo de primeiro-bufão no circo do populismo nacional.

Objetos efêmeros e irrelevantes são agora o grande destaque do governo que tanto diz ser contra coisas efêmeras, como ideologias e regimes utópicos onde a suposta igualdade encobre o escárnio e o fedor de putrefação das carnes vítimas de regimes totalitários.

Bolsonaro está certo em uma coisa: é preciso superar a ideologia para o país crescer. O desespero das classes mais baixas do país não tem tempo para as discussões que a dita nova intelligentsia nacional vêm travando nos seus diálogos. O país precisa de ações. Reformas que reduzam distorções monstruosas como o atual regime previdenciário — pouco importa a eles se a caneta que assinará a PEC vai ser banhada a ouro ou as fezes que saem da verborragia presidencial.

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Luan Oliveira
Revista Subjetiva

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