A verdade é que nós nunca estamos prontos

Reflexões sobre a morte

Fernanda Mendes
Revista Subjetiva
3 min readApr 26, 2019

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Photo by Mantas Hesthaven on Unsplash

Nós sabemos das possibilidades, dos poréns, porquês, e principalmente sabemos quando está próximo. Nosso corpo sente e fala, é mutável conforme o passo. E ainda assim, quando acontece, nós nunca estamos verdadeiramente preparados para aquilo. Dói, a gente chora e sofre de pensar que não veremos aquele sorriso novamente, ou que aquela voz rouca não vai ecoar em nossos ouvidos. Perder alguém é sempre um momento novo, independente de quantas pessoas já foram na sua vida, nunca é igual. Eu me considero uma pessoa bem madura pra essas coisas, mas hoje descobri que não me sinto preparada pra esse tipo de notícia. Assim eu fecho meus olhos, uno as duas mãos na frente do peito e agradeço. Porque todas as pessoas não passam na nossa vida por acaso, sempre temos algo a aprender, e agradeço por ter compartilhado um pequeno pedaço de vida com elas.

A morte é para os vivos.

Existe uma tradição no México em que comemora-se o “Dia de los Muertos”– o famoso “finados” no Brasil–, é um dia que os mexicanos elegeram para celebrar todos os seus ancestrais como uma forma de honrá-los e presenteá-los com o que mais gostavam. De maneira que os espíritos desencarnados também possam se sentir acolhidos e lembrados. O que eu sinto desse dia, é que ele pode ser uma boa opção de como encarar a morte. Ao invés de reunir-se com parentes para chorar pela falta de alguém, o ritual de passagem de plano é celebrado com cores, lembranças e festa. Não significa que lidar com a morte tenha que ser fácil ou feliz, mas pode ser mais bonito e mais leve, sem pensar como se nunca fôssemos lidar com isso um dia. A única coisa tão ordinária quanto morrer, é nascer. E ainda assim para nascer é necessário evolução espiritual e um encontro de dois seres encarnados. Para morrer basta estar vivo no momento e na hora certa. Não há o que te impeça de deixar este plano.

Para quem parte pode ser um alívio ou uma confusão, mas para quem fica é sempre uma dor. É sempre lamentado, sentido e horrorizado. Digo isso porque o sinto também, mas é exatamente isto que venho questionar. De uma maneira bem fria, mas sempre com a minha fé, eu peço para que se estiver na hora da pessoa partir, que vá logo e sem sofrimento. Penso até que de certa forma isso pareça egoísmo, eu querendo controlar o caminho que a pessoa deve percorrer, mas na verdade eu só não quero assistir ao sofrimento de mãos atadas e assim aliviar o sentimento apreensivo de quem fica. E junto com toda a tristeza, ainda é capaz de liberar uma energia importantíssima para a pessoa que parte, pois não há mais nada que a mente queira controlar e sabotar contando dias e minutos antes da morte chegar. Ela acontece, e temos de nos desprender o quanto antes para que ambos os espíritos que vivenciaram essa passagem, seja na Terra ou em outro lugar, possam evoluir.

E apesar de escrever e concordar com tudo isso, a morte é dura e sofrida, mas como tudo e todas as coisas, ela passa. E a vida passa junto. Sigamos fortes e com luz agradecendo sempre àqueles que um dia fizeram tanto por nós e hoje se vão com um pedaço de nossos corações, mas deixando um oceano de memórias de amor e revolução.

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Fernanda Mendes
Revista Subjetiva

Uma mistura de filmes com poesia com reflexões sobre a vida.