Adeus Medium Member

Por que estou deixando de ser membro do Medium

Yann Rodrigues
Revista Subjetiva
5 min readJun 22, 2018

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Foto por Kyle Glenn no Unsplash

Estou largando o status de “Medium Member”. O membro do Medium que paga “5 dols” (cinco dólares ou ~20 reais) ao mês para distribuir sua bufunfa nos textos “exclusivos” através das palmas.

Se você já viu a expressão pela tela do site e não sabe o que significa ou nunca reparou, dá uma olhada no guia aqui:

Então vou deixar essa posição de (nenhum) poder. Você pode ter duas perguntas. E daí? Por quê?

Eu só sei responder a segunda, sigamos com ela.

Motivo 1 — Vou para São Paulo

Não sei o que vou fazer ainda na maior cidade do Brasil, o que significa tempo de vacas magras. Quaisquer 20 trocados podem ser destinados a um novo uso, então não posso ficar de bobeira.

Sério, esse é o motivo básico. Revisão geral dos gastos.

Mas toda revisão de gastos implica pensar por que estamos investindo em tais produtos ou serviços. Eu poderia ter mantido o investimento no Medium ou escolhido outra economia. Não é o que aconteceu.

Motivo 2 — Não perco efetivamente nada

Esses são os benefícios que a “assinatura” do Medium dá, que comentei no texto-guia lá em cima:

“1. Textos ilimitados. Uma pessoa que não assina o Medium têm acesso somente a três textos “exclusivos para membros” por mês. Todos os outros textos são ilimitados para todo mundo;

2. Escutar a versão de áudio de textos populares, que o próprio Medium gera. Essa função não existe para quem não paga os 5 obamas (me recuso a escrever o nome de você-sabe-quem);

3. Salvar textos em uma fila de leitura, que podem ser lidos offline (sem internet) no aplicativo.”

Um quarto ponto que pode ser adicionado é o compromisso do Medium em distribuir a grana que pagamos diretamente nas pessoas autoras que curtimos com os aplausos.

Desconstruindo os itens acima, eu não tenho pressa de ler textos. Se passar do limite dos três textos exclusivos no mês, posso guardar o link para o mês seguinte. O que mata o terceiro item, da lista de leitura. Pois eu posso guardar qualquer link no meu Flipboard, que é de graça e faz umas listas daora.

Pro segundo item, eu não gosto de “escutar” textos. Tem gente que precisa dessa ferramenta, que bom que o Medium tem a iniciativa. Pena que textos só estão disponíveis em áudio para quem paga, e em inglês.

Sobre o quarto ponto, começamos a entrar na parte filosófica. Simbora para o motivo três.

Motivo três — cansei de esperar a tal internet aberta do Medium

O Medium nunca prometeu criar uma internet aberta. Contudo, sempre prometeu fazer parte de um movimento de internet aberta.

O que isso quer dizer?

Através dessa interface que é ótima para escrita na internet, cobre o básico e garante fluidez, o Medium facilitou a entrada de muita gente no caminho da escrita e de uma leitura mais profunda do que a maioria dos links de Facbeook permitem.

Até que começou a dificultar.

Desde o início de 2017, com a criação do Medium Member e do posterior Medium Partner Program, e extinção do Medium em Português, além de outras páginas similares dos outros países, o Medium se fechou.

No entanto, eu dei uma chance. Porque ele se fechou prometendo seguir seu caminho de inovação no meio das publicações. No formato da escrita e da imprensa.

É daí que o quarto ponto, a capacidade de financiar as pessoas autoras que eu quisesse com o meu dinheiro, ficava interessantíssima. Eu poderia financiar gente com menos poder, menos alcance, e ajudar a internet a ser mais aberta e livre. Mais distribuída.

Em um mundo de anúncios financiando tudo em nome da nossa atenção, encontrar um lugar limpo, onde meu dinheiro vai para onde quero, tem muito valor. Muito mesmo.

O principal motivo para meu corte de gastos no Medium é a quebra desse sonho. A certeza de que foi uma ilusão.

Essas foram as mudanças do Medium do final de 2017 até o presente momento:

  1. Introdução de grandes publicações (veículos de imprensa, grandes revistas);
  2. Criação de um programa de “voz dos autores”, onde alguma pessoa de forte impacto na comunidade do Medium é entrevistada. Como a Subjetiva faz por iniciativa própria com algumas de suas pessoas escritoras.
  3. Criação de um Podcast;
  4. Atualização do programa de pagamento para pessoas autoras, o Medium Partner Programs, para incluir textos enviados para publicações nas regras de pagamentos.

O que essas mudanças revelam sobre as intenções do Medium? Foco em qualidade. Foco em monetização.

Ainda que seja aberto para escrita, esses pontos mostram que o caminho do Medium é especialização: fazer conteúdos de mais qualidade e render mais dinheiro para autores.

Para alinhar esses dois focos, o Medium tem se especializado em um processo editorial: é a curadoria de textos que recebem pagamentos, de textos que são disponibilizados com áudio, a criação do Podcast. Aceitar grandes veículos garante ter mais textos bancados por marcas experientes, de maior alcance e credibilidade.

Uma especialização que afunila, ao invés de abranger. A plataforma se fecha mais do que se abre.

Se você tem dúvidas sobre a minha interpretação, essas são as palavras de Abril/2018 do Ev Williams, o CEO do Medium:

  1. Aumentar qualidade e relevância — foco em curadoria;
  2. Uma melhor experiência de usuário — foco na usabilidade do site e do app, quão bonitos e fáceis eles são de usar;
  3. Aumentar a rentabilidade dos textos;
  4. Propor ferramentas de colaboração — especialmente edição;
  5. Intensificar o áudio.

Nenhum desses itens fala sobre abertura. Quanto mais curadoria no modelo atual, mais foco em conteúdos em inglês. Mais textos de fora em nossas páginas iniciais.

Aumentar a rentabilidade ou a experiência de áudio para usuários que pagam não interessa para quem está no Brasil e quer ouvir textos em português ou financiar pessoas que escrevem na nossa língua. Nem para quem quer viver da escrita por aqui.

Ao ler o texto de Ev Williams, fica claro que o rolê do Medium fica cada vez mais legal para cada vez menos gente. No caso, a gente está na lista dos esquecidos do rolê.

Não é nessa promessa que eu investi esperançoso lá atrás.

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