Alto mar.

“PRESSA (s.f.) […] é desalinhar o destino. é um passo largo e desajeitado. é tirar o amor do seu ritmo natural e terminar sem querer o que nunca começou. é uma aposta no azar. é desafiar o tempo (e estar disposto a perder).” — João Doederlein

você me pedia calma e eu não sabia ser diferente, eu não sabia ser menos que um mar revolto

eu até queria ir com um pouco mais de calma, mas calma é algo que não existe em mim

porque eu sou mesmo feito água salgada que escorre que se agita que passa e arrasta tudo

porque eu sou mesmo feito quem morre de fome e quando come enche a barriga até estourar o botão da calça

exagero, excesso

e até a minha falta de virgula revela isso, eu saio mesmo devastando tudo atropelando as palavras e tropeçando em todas as coisas possíveis

texto sem pausa
sentindo contínuo

eu gostaria mesmo de ter preparado meu psicológico, arrumado melhor a casa pra tu entrar, eu queria ter esperado um pouco mais, mas não deu.

eu tenho pressa

pressa por você

porque eu sabia que a gente não tinha tempo pra perder

eu não sabia quando a nossa última mensagem do dia, seria também a última da nossa vida

eu não podia deixar que nosso último dia não fosse carregado pela minha pressa de te amar

por isso eu passava com todo o meu desastre por cima de todas as suas ideias sobre mim tudo isso porque eu também sou ventania e ninguém nunca para o vento

mas quem sabe um dia,
eu vou aprender a me compreender melhor

você, talvez, vai poder me entender melhor

e a gente vai cruzar nosso caminho mais uma vez pra dizer que tudo bem

porque está tudo bem.

sigo na oscilação das minhas ondas

esperando que tu volte, quem sabe um dia, sem medo de se entregar.

tua calma sempre me interessou.

você, de alguma forma, acalmava minha pressa.

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