Amargo

Andz
Revista Subjetiva
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2 min readApr 19, 2020
Photo by Dollar Gill on Unsplash

Coloquei uma cerveja no copo com a estampa do meu time que você me deu naquele dia que ele foi campeão da copa América.

Na hora que tomei o primeiro gole amargo e gelado daquela bebida, senti que nada era mais frio e sem sabor do que teu desprezo por mim.

Lembra dos dias quentes como uma dose de chá, que passávamos juntos e que você botava aquela música do Lenny Kravitz e abria aquele sorriso largo que contagiava toda nossa sala?

Abri mais uma cerveja. Veio seu beijo na minha nuca com aqueles lábios tão doces e suaves, enquanto eu tocava naqueles caracóis negros em que a maioria chama de cachos e você se aninhava em meu peito, enquanto eu pensava na sorte de ter você do meu lado.

Depois de duas caixas de cerveja, me veio além da saudade de você, uma dor no peito que eu jurei que era infarto, uma vertigem, um enjoo fortíssimo e um zumbido no ouvido. Eu achei que era tudo isso por causa da sua ausência, mas era o gosto que a gelada me deu.

Logo depois de eu aumentar o volume da música que tocava, eu saí correndo pro vaso, despejar todos os demônios que habitavam dentro de mim. E todos eles amavam você.

Na primeira parte, eu tirei as lembranças de nós no show do Terno Rei cantando Yoko pertinho do meu ouvido e eu rindo pra você com um sorriso bobo.

Achei que a noite ia acabar ali. Me deitei. Continuava tudo girando em volta de mim, chorei um pouco.

Segunda parte foi embora seus beijos quentes, molhados e lentos que me deixavam totalmente sem controle. Foi embora o êxtase.

Voltei pra cama, subiu um calafrio, a minha pressão abaixou, a música tocava cada vez mais alta no meu quarto e eu lacrimejava e pedia a Deus pra me levar pois eu não iria aguentar o estrago que eu já tinha causado por causa desse amor que me machuca tanto.

Na terceira parte eu terminei de apagar todas as vezes que você demonstrou me amar e meu peito doeu, mas foi ficando mais leve. Minha pressão caiu de vez, e eu fui direto pro chuveiro. Minhas lágrimas se confundiam com as gotas de água, que lavava toda minha alma e acalmava um pouco o sentimento dentro de mim.

De toalha, mais calmo, meu coração já estava tranquilo depois desse terremoto que chamam de amor passou. Os banhos que tomo sempre são longos pois creio que funcionam como uma terapia pra mim. Limpam e aliviam as dores do coração e da existência.

E quão pesado está sendo existir em um mundo em que você não aparece com teu amor.

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Andz
Revista Subjetiva

Escrevendo sobre sentimentos que eu finjo não ter. Gosto muito de mim mas as vezes não queria ser eu.