Amontoado de coisa escrita
Como vão os seus nervos de aço? Como tem sido o mundo, os dias? Sua vida, não, não interessa. Mas o que você sente? Como você lê o mundo?
Pois o mundo é lido. Louco, ele, o mundo. Causa cada reação. Pelo menos em mim causa. Dói, eu quase sinto. É real. A ansiedade, o ódio. Como pode um monte de pixels na tela me deixar assim? São só palavras, afinal.
Só.
Um monte delas. Jogados aqui e ali. As palavras não têm culpa, eu que lhes dou significado.
Não, espera, eu preciso começar de novo.
Você nem sabe, eu li aqui algo que me deixou realmente incomodado. Mas que culpa eu tenho de ter lido? Que culpa tem as palavras? Nenhuma! Talvez melhor fosse não ler. Não ver nada. Ler é muito perigoso e causa reações ruins. Isso, então, que não se leia.
Você aí, lendo. Você.
O mundo que existe é só o meu, fechado. Não deixo ninguém nem entrar nem me atingir. Mas quem eu quero enganar, eu nem tenho tanto poder assim.
Mas as palavras, elas são fortes. Duras. Ou bonitas e agradáveis. Que coisa esse monte de rabisco que a gente insiste em colocar sentido. Em interpretar. Estamos condenados a isso. É, afinal, impossível estar diante de um objeto e não lhe dar significado. O sentido, em si, não existe, somos nós que os colocamos.
O mundo que eu vejo não é o mesmo que o seu. Podemos concordar em partes. E nem assim enxergamos igual. A sua vida não é a minha.
A minha vida, que escorro nessas linhas, nada mais são que palavras. Ora, palavras, sempre elas. Esses rabiscos, tracinhos e pinguinhos. Um monte delas, por todos os lados que se olhe. Seja aqui, seja nas redes sociais. Ou mesmo impresso, há quem ainda ouse.
Palavras. De raiva, de indignação. Palavras falsas, verdadeiras. Palavras que dão conforto e alegria. Palavras que fazem a gente desejar nem saber ler. Que culpa tem as palavras? Amontoados de palavras, jogados, largados e pelados. Traços que significam. Mas diferente. Pra mim e pra você.
Palavras. Aqui e ali. Melhor não ter. Não ver. Palavras. Poucas delas. Cada vez menos. Assim é fácil. Isso, deve ser. Esse é o jeito. Final. Acabar com palavras. Não dói. Não sinto. Feliz? Ainda não. Mas diminui. Ainda. É. Muito. Palavras. Acabam.
Acabam? Acabo. Sim. Deixo. Assim. Raso. Cansado. Emotivo. Bom. Ruim. Sentimentos. Sentidos. Traços. Riscos. Rabiscos. Eu. Você. Mundo. Aguento. Não. Mais. Demolir. Encerrar. Paz.
Vo-vô viu a u-va.
Mi-nha mãe me mi-ma.
O ta-tu en-trou na to-ca.
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