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Ampliando o olhar sobre o suicídio — 4 mitos frequentes

Jóice Bruxel
Revista Subjetiva
Published in
7 min readSep 12, 2017

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O suicídio é uma importante questão de saúde pública no mundo. Segundo a OMS Organização Mundial de Saúde — estima-se que a cada 40 segundos alguém se suicide no mundo, e a cada 45 minutos, no Brasil. E segundo as estatísticas, esses números só aumentam.

Um tema muito polêmico, e ainda um tabu em muitos aspectos. O suicídio é um assunto perturbador, tanto para as pessoas em geral, quanto para os profissionais que atuam na prevenção e no acompanhamento de pacientes com ideação e/ou tentativas de suicídio.

Mas por que (e a quem) o suicídio perturba?

O suicídio perturba porque temos dificuldade em compreender o que se passa na cabeça e quais os motivos para uma pessoa tirar a própria vida.

Perturba porque existem muitas coisas que antecedem o suicídio. Como a depressão, por exemplo. O desespero. A solidão. A luta e a guerra interna. Os sinais, que deixamos passar, que não vimos ou não validamos.

Perturba porque na verdade, não é o suicídio que mata. Ele é só a consumação da morte, que já iniciou, muitas vezes, em vida.

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Perturba porque para as famílias de pessoas suicidas, quando há a morte, de fato, fica uma incógnita eterna. Com um vazio e com respostas que jamais serão preenchidas. Lidam com a falta do ente querido e de respostas. E é muito difícil lidar com o vazio e com as lacunas que ficam.

Falo isso por experiência própria. Tenho casos de suicídio na família e enfrentei isso na própria pele (ou em minha própria mente). Nunca saberei ao certo os motivos e nem saberei por quais batalhas os meus familiares estavam passando. Eu não estava por perto, eu estava em outro Estado na verdade, e eu não mantinha contato tão frequente com nenhuma das duas pessoas. E quando fazia, normalmente era por telefone.

Já parei de tentar entender ou de procurar respostas, mas os questionamentos são inevitáveis para a família. Você sempre vai ter a sensação de que poderia ter feito alguma coisa, de que era a sua obrigação ter percebido, por mais distante que você estivesse. De que deveria ter prestado mais atenção e duvidado quando as pessoas diziam que “estava tudo bem”.

Eu não me culpo, de forma alguma, e racionalmente eu sei que por estar longe, não tinha como eu perceber muita coisa, de fato, mas como eu disse, é difícil lidar com o nada. E é por isso que o suicídio tem sido uma das minhas causas particulares. Porque eu não quero que aconteça com mais ninguém. E o que eu puder fazer para evitar e ajudar, eu farei.

E é por isso que eu afirmo: Precisamos falar sobre suicídio. E precisamos falar agora. Não dá pra deixar pra depois. Ou outra hora. Depois pode ser tarde demais.

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O que leva uma pessoa a se suicidar?

O suicídio, muitas vezes, não representa o fim da vida, e sim, o fim da dor, de um sofrimento que foi além do que a pessoa consegue suportar. Que excedeu todos os limites e todas as forças. Que ultrapassou a vontade de viver, de existir, e se misturou com a vontade de morrer.

A tentativa de suicídio é um pedido de socorro!

Existem diversas causas para o suicídio, sendo algumas delas: depressão, solidão, doenças, transtornos mentais (distúrbios de ansiedade, bipolaridade, esquizofrenia, etc.), dificuldades financeiras, abuso de drogas, luto ou perdas afetivas, etc.

Os números mundiais mostram que mais de 90% dos suicídios está associado à algum transtorno mental, sendo a depressão sua maior causa.

É importante entender no que se refere ao suicídio, que existe uma ambivalência no ato, ou seja, ao mesmo tempo em que a pessoa vai atrás da morte (o que, para ela, pode significar a finalização de algum problema, ou até então de uma existência que já não lhe faz mais sentido), ela deseja algum tipo de intervenção externa. Algo que solucione o seu problema e lhe dê algum tipo de direcionamento, ou represente algum sentido. E é aí que entra o primeiro mito:

1º mito: Quem quer se matar não fala; quem fala só quer chamar a atenção

Talvez esse mito seja um dos mais replicados. É comum ouvir frases como “ele não quer se matar, só quer chamar a atenção”; “quem quer se matar faz escondido, não fica divulgando”; “se quisesse se matar, já teria feito ao invés de ficar avisando”, etc.

Muitas vezes, o suicida transmite sinais verbais e corporais da sua intenção, como uma forma de pedir socorro. Na verdade, ele não está realmente decidido a morrer, apenas não consegue mais lidar com os seus fardos; é como se ele buscasse na própria morte uma alternativa à vida.

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Todos os sinais, todas as falas e todos os detalhes, devem ser vistos com seriedade e analisados de perto. Lembre-se: esta pessoa provavelmente está em um momento delicado e de sofrimento, e ela precisa de ajuda! Muitos suicidas comunicam antecipadamente sobre a sua intenção. É necessário estar alerta!

2º mito: O suicídio é um ato impulsivo e acontece em um momento de descontrole

Nem sempre. Muitas vezes a pessoa passa por um longo período de decisão e de planejamento, aonde ela realmente cria um plano suicida e elabora as melhores diretrizes para o ato, ou melhor, para a partida a ele.

Uma atitude frequente de planejamento (e um sinal frequente) é a organização financeira. Muitas pessoas se organizam antecipadamente financeiramente, para não deixar a família com problemas.

3º mito: Quando uma pessoa sobrevive a uma tentativa ou apresenta uma melhora considerável, significa que ela está fora de perigo

Nem sempre. Muitos suicidas partem para o ato, após apresentarem uma melhora durante o tratamento. Durante o internamento ou após a alta, são momentos em que existe um grande risco também.

É necessário estar atento às melhoras repentinas.

São comuns em relatos de familiares, após o suicídio, falas do tipo: “nossa, mas ele estava tão bem”; “fazia anos que eu não via ele tão bem”; “ele estava feliz, contente, leve, como eu não o via há tempos”.

Portanto, mesmo depois de uma internação ou durante o tratamento, é necessário permanecer alerta!

4º mito: Falar sobre suicídio transmite a ideação suicida aos outros

É justamente o oposto. Comportamentos suicidas não são causados pela fala no assunto.

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Com o silêncio, o suicídio aumenta, porque enquanto ele não é vocalizado, ele não pode ser combatido.

Nós só conseguimos combater algo que já identificamos. Não há como lutar com um inimigo oculto, com o nada, precisamos identificá-lo e falar sobre ele, para então, agir.

Por causa de uma visão estigmatizada, muitos suicidas não se sentem à vontade para conversar sobre isso, o que pode ser um agravador do problema.

A fala muitas vezes, através de outro olhar, de outro ângulo, pode trazer opções para a pessoa, ou até então, tempo, para que ela repense e mude de direção e tome outras decisões, que não seja a morte.

O que você pode fazer parte ajudar? Amplie o seu olhar e mude a sua atitude!

Demonstre interesse pela fala das pessoas. Preste atenção nas pessoas que estão perto de você. Seja afetuoso e tenha empatia. Se disponibilize a ajudar e se preocupe verdadeiramente.

Busque informação. Você não precisa entender, mas precisa acolher e respeitar. Leia, estude, entenda. Faça o que estiver ao seu alcance para ajudar, mas não replique “achismos”, por mais que você tenha boas intenções. Seja munido de conhecimento, e não de opinião pessoal.

Você deve ser o apoio e não o gatilho.

Não minimize ou tente mensurar o sofrimento alheio. Não compare as suas dores com as dores do outro e nem tente minimizá-las. Em hipótese alguma.

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Acolha. Sem julgamentos ou ideias pré-concebidas. Tenha um olhar sensível e pratique a empatia.

Foque no outro, e não em você. Deixe a sua frustração de lado.

Se você estiver perto de alguém com ideações suicidas, fique atento às suas manifestações e seus pedidos de ajuda!

O outro também é responsabilidade sua!

Se você for alguém com ideação ou com um plano suicida, peça ajuda!

Você não precisa ser forte o tempo todo! Se o seu fardo está muito pesado, alguém pode ajudar a carregá-lo! Existem outras direções que podem ser tomadas! Acredita em mim! Ainda há muita vida esperando por você! Eu e outras pessoas podemos lhe ajudar!

Você também pode entrar em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida), através do telefone: 141 ou pelo site.

Este artigo faz parte do nosso tema mensal sobre o Setembro Amarelo, adote essa campanha e compartilhe com os amigos e, caso esteja precisando, não deixe de ligar para o CVV através do número de telefone 141 ou pelo site.

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Jóice Bruxel
Revista Subjetiva

Psicóloga e escritora. Amante do frio, de pimentas, gatos e seres humanos. http://joicebruxel.com.br :)