Ana Maria Machado e Nuccio Ordine na Bienal do Livro Rio

Mesa “A utilidade do inútil” no Café Literário

Revista Subjetiva
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4 min readSep 3, 2017

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Arquivo pessoal

“A educação transforma a vida de um povo e dos indivíduos que o compõem, os obstáculos para esse ideal se concretizar não são poucos. Como o gosto pelo amplo conhecimento pode se afirmar no mundo acelerado e ultra especializado que vivemos?”

Esta foi a descrição da mesa em que Ana Maria Machado, escritora de mais de uma centena de livros, membra da Academia Brasileira de Letras e premiada com o nobel da literatura infantil; Nuccio Ordine, professor de várias universidades do mundo, editor e colaborador de jornais e escritor do livro “A utilidade do inútil”, livro este que é pano de fundo para o tema a ser discutido na mesa; Marco Lucchesi, escritor de ficção e poesia, ensaísta, ganhador do prêmio jabuti e possui obras traduzidas para diversas línguas.

A primeira a falar foi Ana Maria Machado, que conta que sua educação começa com seus avós que não possuíam educação formal, seu avô paterno foi imigrante português, seu avô materno era filho de lavradores no norte do Espírito Santo, e foi ele que percebeu que “estudar era a possibilidade de ultrapassar os limites da vida”, segundo a autora. E assim se tornou o primeiro reitor da Universidade Federal do Espírito Santo, escreveu dois livros. Maria Machado que sua “orientação para ler foi feita pelo exemplo”.

O autor do livro que nomeia a mesa, Nuccio Ordine, conta que sua história é contrária a de Ana Maria Machado, pois em sua cidade natal, no interior da Itália, não haviam livros, muito menos biblioteca, teatro e cinema. O seu encontro com a cultura se deu na na escola, segundo o autor, “o encontro com os professores pode mudar a vida e não há mais condições para escrever esse livro porque as universidades não são mais feitas para mudar a vida dos universitários”.

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Ao encontrar com o livro e com a palavra, Nuccio acredita que os livros não servem para superar uma prova da faculdade, não serve para que se consiga o diploma, “o livro serve porque ele nos ensina a viver, ele serve porque faz com que nós nos tornemos melhores, eles [os livros] servem porque fazem com que a humanidade seja mais humana”.

“O que é útil e o que é inútil?”, pergunta o autor, “na nossa sociedade, para se saber quem é inútil e quem é útil é preciso olhar para o balanço do governo e onde estão seus cortes”. Nuccio diz que “hoje só é útil o que produz dinheiro, meu livro quer mostrar que a humanidade tem mais necessidade de literatura, da filosofia, da arte e de todas aquelas coisas que não produzem dinheiro, mas faz com que nos tornemos melhores”.

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Marco inicia sua fala dizendo que perdemos o ideal utopista, de pensar em nossas ações como uma forma de mudar a nossa realidade. Crítica ferozmente a perseguição aos marxistas e diz que “o futuro é o que se pode ter em comum, sonhar, através da literatura”. Propõe que tenhamos grandes prisões, mas que essas prisões sejam grandes bibliotecas e que “o prisioneiro abra as portas da biblioteca e diga: ‘venha ler’”.

Nuccio volta a falar, acredita que hoje a universidade se tornou uma grande empresa, onde o estudante se tornou um cliente. “O que não se compreende é que não podemos prever o futuro sem conhecermos o passado”, afirma o autor. Crítica a grande influência da economia na universidade, exemplifica sua intervenção com a nomenclatura que são as mais utilizadas nas universidades: “crédito e dívida”. Utiliza a nomenclatura de algumas palavras para mostrar como elas foram deturpadas com o passar dos tempos, diz que a palavra cultura era “aquilo que os pais nos deixaram”, segundo o autor, a palavra “patrimônio”, por exemplo, “virou dinheiro, mas pensaram num bem que os pais deixaram aos filhos”.

A arte e a literatura andam juntas, segundo Nuccio, a primeira é “única e irreproduzível”, a segunda “não precisa ser estudada para as provas, ela precisa ser estudada porque ela ensina a viver”.

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