Aposente teu coach em 2020

C.B.Alves
Revista Subjetiva
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2 min readDec 16, 2019
Foto: Divulgação

Antes de começar, já quero deixar claro que não tenho nada contra os coaches e nem contra a profissão em si.

A menos de um mês para o fim do ano, batemos nossos pezinhos como Dorothy (entenderam a referência?) e nos preparamos para a maior confraternização do mundo.

Esse é o momento em que compramos roupas novas para passar o natal no sofá e fazemos uma lista de promessas que, grande parte das vezes, não vamos cumprir.

Me preparando para esse ritual tradicional de fim de ano, me coloquei a refletir quais seriam as minhas promessas para 2020, levando em consideração a atualidade política, econômica e social do nosso país. De pronto já risquei a viagem para Disney que estou prometendo a mim mesma desde 2010. E nesse ritmo de ir excluindo promessas que com toda certeza não conseguirei cumprir, buscando fazer a lista mais realista possível (sou virginiana, cumprir listas para mim é sagrado) cheguei ao ponto irremediável de minha reflexão: “O que fazer com o espírito coach implantado em mim desde a infância?”.

Crescemos em uma geração em que a exaltação dos sacrifícios pessoais é como a raiz profunda de uma árvore. Ouvimos constantes cobranças: “você precisa se formar para ser alguém na vida”, “você precisa emagrecer para ser bonita”, “você precisar ter notas de 9 acima para ser bom”, “você PRECISA passar (no Enem, vestibular, prova do colégio, prova de carteira de habilitação, entrevista de emprego…)”, “seu primo passou no concurso e já tá ganhando vinte mil”. Somos e fomos tão bombardeados por frases como “sem dor, sem ganho” e“só há vitória com sacrifícios” que esses discursos “motivacionais” já se tornaram automáticos em nossas cabeças e só nos resta uma opção: alcançar, não importa o quanto o caminho até esse objetivo nos deixe doentes, ansiosos, depressivos e cheios de dor nas costas.

Fracassar está fora de cogitação! Cansar? Pessoas de sucesso não se cansam! Cair e analisar o caminha traçado, tentando entender se estamos sacrificando algo precioso demais não é permitido! Você não quer alcançar seus sonhos?! É preciso batalhar! E, assim, caminhamos cada vez mais para o abismo.

Na minha lista de promessas de ano novo eu coloquei que irei aposentar meu coach e começar a cuidar de mim mesma. Entender o meu tempo, a minha forma de aprender e a minha forma de lidar com as coisas. Vou respeitar meus limites e minhas dificuldades. Em 2020 eu não vou me comparar a ninguém, nem tentar seguir um ritmo de vida de outra pessoa.

Vou procurar entender que tudo bem me cansar e precisar encostar um pouquinho, puxar um ar, tomar uma água, olhar em volta, caminhar brevemente e, quem sabe, voltar a correr.

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C.B.Alves
Revista Subjetiva

Escrevo para preencher as minhas próprias entrelinhas.