Blue Jays por Kim Diment

Aquela música do 5 a seco

Carolina Infanger
Revista Subjetiva
5 min readApr 8, 2021

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Hoje é quinta-feira, são 23:16 e eu sinto um pouco de fome depois de uma aula incrível sobre Existencialismo.

Preciso dormir cedo porque amanhã eu trabalho mas eu não consigo dormir porque a aula foi boa demais. Ela foi ótima, ela me fez alcançar um livro de Rubem Alves novamente da prateleira. Se minhas referências aqui se limitavam à Leminski, pois agora ele tem uma dupla.

Como tudo que amo, eu também critico. Rubem nessa noite me apresentou uma ideia que fez meu nariz torcer: A ideia de que a morte de um amor é menos dolorida do que a partida de um amor à outro amor.

Eu simplesmente não consigo aceitar isso. Entendo que quando alguém morre te amando, a lembrança que você possui é afetiva, que você entende que se amaram e que a vida dela acabou amando você. Isso é reconfortante.

Mas é uma morte.

Agora, dizer que dói mais a partida de um amor à outro amor, te torna um pouco — me desculpa — imbecil. Eu entendo o ego ferido mas se a gente fala sobre um amor genuíno, não faz mais sentido você querer ver o teu amor feliz e sorridente ao invés de triste e amargurado ao teu lado?

Então, vamos ao título.

Você conhece ela, eu conheço ela e ela realmente é linda.

“Sempre que der
Mande um sinal de vida de onde estiver dessa vez
Qualquer coisa que faça eu pensar
Que você está bem
Ou deitada nos braços de um outro qualquer
Que é melhor

Do que sofrer
De saudade de mim como eu to de você
Pode crer
Que essa dor eu não quero pra ninguém no mundo
Imagina só pra você

Essa música — por mais que eu acredite que ela tem uma dualidade e eu já te explico — capta bem a ideia de deixar teu ego ferido de lado e focar no real sentido de amor. Se é que amor tem um sentido real. O que é que é real, não é mesmo? Pausa na crise.

As coisas acabam e muitas delas não acabam bem. Mas quando elas acabam eu normalmente volto à esse sentimento: O de querer bem. É como se fosse um teste de qualidade que verificasse o MEU sentimento, se eu ainda estou brava e quero que a pessoa exploda então eu percebo que eu não amei, esse teste normalmente é realizado um tempo depois do término, entendendo que temos nossas fases de luto. Se eu sinto meu peito cheio e quero tudo de melhor pra essa pessoa, então eu a amei com todo meu coração.

A partida de quem eu não amei para um novo amor, à pouco me importa.

A partida de quem eu amei para um novo amor, me faz ter a esperança de que agora ela seja feliz.

Porque não faz muito sentido relacionamentos felizes acabarem, não é mesmo? Eu amei nessa vida e sei que meus amores terminaram e que tá tudo bem, e mais que isso: Eu amei nessa vida e eu amei tanto que eu sei que aquela pessoa não é pra mim e nem eu pra ela.

E é justamente por isso que eu desejo muito alguém que seja pra ela: porque eu não fui, e tá tudo bem!

Mas, vamos pra dualidade?

“Quero é te ver
Dando volta no mundo, indo atrás de você
Sabe o quê
Rezando pra um dia você se encontrar e perceber
Que o que falta em você
Sou eu

Agora a gente captura um pouquinho de Rubem novamente. Primeiro a gente precisa entender que nós não fazemos falta no outro. Que sentir falta de alguém é sentir falta de um pedaço à mais, tipo uma dor fantasma ao contrário: Sentir falta de algo que você tinha a mais e algo que agora você tem a menos. Porque é completamente estúpida a ideia de que o outro é alguém que vai nos completar e que quando for embora nós perdemos um pedaço nosso.

O outro não é nosso.

E nós não somos incompletos.

O outro vai frustrar a gente, vai nos irritar e pode simplesmente ir embora sem mais nem menos — eu preciso dizer que tá tudo bem? Porque tá — e é exatamente isso: Entender a individualidade.

Você precisa ser um pouco ingênuo para acreditar que entre todas as melhores coisas do mundo que você deseja para alguém você pode se enfiar ali no meio sorrateiramente e acreditar que é você quem vai fazê-lo feliz, talvez só não tenha feito antes por conta do timing — ai eu odeio essa palavra — mas depois de um ano, seis meses, talvez duas semanas, tudo fique bem.

Pode ser que tudo fique bem.

E pode ser que não. Você pode tentar de novo e dar tudo errado ou pode dar certo. Mas, independentemente de “certo” ou “errado” : não é sobre você.

Não vai ser você que vai tornar uma vida miserável incrível e a gente precisa entender isso. Que nós não temos esse poder.

Mais ainda: que ninguém de fora tem o poder de tornar sua vida incrível da noite pro dia. Essa ideia é fajuta e foi vendida por contos de fadas à rodo.

Tua vida depende de você.

Então, nós sempre chegamos aqui, não é? Nesse mesmo ponto depois de quebrar tanto a cabeça. Rubem, eu te amo, mas não é bem assim… ficar triste porque alguém ama quem eu amo é — novamente — imbecil.

Beira à ideia de objetificação do amado. Como se ele fosse exclusivamente meu, o sentimento também e a posição de amado também.

Ninguém é nosso além de nós.

Vamos ser francos: Muitos querem amar e muitos querem ser amados. Nós não queremos dores de cabeça então um relacionamento que se assemelhe à algo saudável é o mais perto desse amor que nós queremos dar e sentir. Querer algo patológico não é amor. Se agarrar à pessoas do passado com medo de um ego ferido, não é amor.

Um pouco decepcionada com o homem escritor que eu amo mas faz parte, eu ainda o amo mesmo assim.

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Carolina Infanger
Revista Subjetiva

Escrevo tudo que me transborda, ensinando tudo que um dia eu descobri; Futura Psicóloga | ig: @bluehowlita