Artista do Desastre: Uma lição para não desistir jamais!

Lucas Machado
Revista Subjetiva
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4 min readJan 11, 2018
Greg Sestero (Dave Franco) e Tommy Wiseau (James Franco) em The Disaster Artist (2017)

Sim, não poderíamos iniciar esta crítica sem falar sobre as denuncias de abuso sexual que foram feitas ao ator, diretor e produtor do filme James Franco após o recebimento do Globo de Ouro 2018 pelo mesmo — para saber quais são essas acusações clique aqui.

A história de dois apaixonados pela sétima arte começa no tablado, sim, nada mais simbólico do que isso para um filme que irá retratar a trajetória de dois atores aspirantes aos holofotes de Hollywood. O primeiro a entrar em cena é Greg (Dave Franco), um jovem de apenas 19 anos que sonha em ser ator, mas que possui um dos grandes obstáculos para qualquer um que almeja tal carreira: a timidez. Ele simplesmente não consegue soltar sua voz, se sentir a vontade no palco sob os olhares da plateia, por mais que este seja seu grande sonho, sua timidez faz com que as pessoas desacreditem de sua “vocação”. Mas, assim que Tommy Wiseau (James Franco) entra em cena com seus longos cabelos pretos, olhos cabisbaixos e sua roupa mesclando um estilo clássico-gótico gritando “Stella! Stella! Stella!”, Greg percebe que há uma chance de perder a timidez se aprender tal feito com quem não possui nem um pingo da mesma.

Tommy é um rapaz excêntrico, que esconde a sua origem, sua idade e a fonte do seu dinheiro — que não é pouco. Mesmo não sabendo muito sobre as particularidades do amigo, a paixão pelo tablado fala mais alto no coração de Greg e o mesmo decide morar com Tommy em seu apartamento em Los Angeles, onde as grandes produções da TV e do cinema acontecem. Para os dois, nada mais poderia atrapalhar os seus sonhos, mas, a vida de ator se mostra cada vez mais dura, principalmente para Tommy que não se encaixa nos padrões exigidos por Hollywood (mesmo sendo branco, seu estilo e seu sotaque não identificado dificulta sua aprovação), entretanto, para Greg, as coisas parecem começar a andar quando o mesmo é aprovado em uma agência de atores.

Após algumas semanas, Greg começa a namorar Amber (Alison Brie), uma jovem que trabalha no bar de uma boate que os dois amigos foram em seu primeiro dia em Hollywood. O que os dois não imaginavam seria a reação de Tommy, que começa a sentir um profundo ciúme do amigo agora dividido entre ele e sua amada. Isso tudo se soma as recusas da academia aos dois, que não são aceitos em lugar algum, até que um dia Tommy decide escrever, dirigir, protagonizar, produzir e bancar o próprio filme, “The Room”. A partir daí, a trajetória de ambos muda e o sonho de produzir o próprio filme fica cada vez mais perto, mas será que vai dar certo? Confira em “Artista do Desastre”!

Tommy Wiseau não era um ator/diretor/produtor/pessoa fácil.

Agora, vamos às críticas, os irmãos Franco estão incríveis em seus papeis desempenhados, ao final do filme é mostrada a atuação original do filme “The Room”, mostrando o verdadeiro Tommy e o verdadeiro Greg, e posso dizer sem sombra de duvidas que ambos representaram a dupla original de forma perfeita! Ao longo do filme, temos a participação do grande Bryan Cranston (Breaking Bad) que possui poucos minutos de tela, mas apenas por vê-lo em cena novamente já me vem um “Say my name!” na cabeça. O elenco coadjuvante também não deixa a desejar, sem muitas surpresas, nenhum deles consegue desempenhar um papel que protagonize algo, são cenas curtas e diálogos rasos.

O roteiro consegue unir drama, biografia e comédia em um ritmo linear a qual segue o filme. Os diálogos são bem interessantes e possuem muitas mensagens motivacionais, principalmente no que se refere à perseverança. A trilha sonora possui ritmos consagrados como “Rythm of the Night”, mas a mesma não se destaca no filme, não dialoga com o mesmo e não possui um grande papel de destaque, mesmo ela sendo produzida por Dave Porter (Breaking Bad).

Sobre a fotografia do filme, uma grande peculiaridade adotada pelo próprio diretor ao seu personagem é que sempre que Tommy Wiseau está descontente com algo, a câmera o filma de baixo para cima, como se quisesse dar um maior ar de superioridade a ele e as suas vontades ou aderando à muitas sombras e tons escuros que abrangem a tela. A paisagem adotada pelo filme é a de Los Angeles, mas o mesmo se prende durante boa parte no set de filmagem alugado por Tommy, fazendo com que gravações externas não façam parte do filme e que as paisagens da grande cidade não fossem bem aproveitadas.

O filme consegue retratar muito bem as personalidades da dupla original que produziu de fato o longa-metragem “The Room” e o lançou em 2003, fazendo com que esquecêssemos que o filme é biográfico e dando um enfoque maior aos dramas pessoais de Tommy e da busca pela fama e pelo reconhecimento em Hollywood.

Nota: 9

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Lucas Machado
Revista Subjetiva

Cientista social, professor de Sociologia e criador da Revista Subjetiva