As imprevisíveis e maravilhosas curvas

Nunca fui fã das linhas retas. Sempre preferi as curvas.

Regiane Folter
Revista Subjetiva

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É engraçado, porque quando desenho não consigo fazer nada melhor que o típico bonequinho de palito. Mesmo assim, cada linha que rabisco segue seu traço sem preocupar-se em ser perfeitamente reta. E cada palavra que escrevo faz todas as curvas necessárias para transmitir o mundo que vejo: nunca perfeito, sempre real.

Porque, caros amigos, por mais que as capas de revista gritem o contrário, a verdade é que a vida é cheia de curvas. E eu sempre me reconheci nelas.

Me reconheço nas curvas de cada cacho rebelde que levo na cabeça, e também nas caraminholas enroladas que carrego do lado de dentro da cuca.

Me reconheço nas curvas de tantos sorrisos trocados, na alegria que tira todas as linhas retas de um rosto rígido para transformar olhos, bocas e rugas em pequenas sinuosidades nem sempre harmônicas, mas totalmente felizes.

Com os anos, aprendi a valorizar estas e outras curvas presentes em mim. Me sinto em casa nas curvas de um corpo imperfeito, mas ainda assim único e especial, porque é meu. São curvas que me marcam e que não trocaria por nada, assim como não trocaria todas as delícias que provei, as aventuras que vivi, os passos que dei por aí.

Não mudaria as curvas de uma barriga que se criou à base de arroz com feijão, docinhos, amor e a certeza de que não preciso ser reta para ser feliz.

Não mudaria as curvas das minhas pernas, que são iguaizinhas às ondas dos mares que naveguei e os caminhos tortuosos que percorri. Não mudaria as curvas dos meu braços, moldadas pelos abraços que dei e recebi.

E por mais que às vezes as linhas retas pareçam tão mais belas, tão mais simples que as imprevisíveis curvas, a verdade é que as formas são muito mais simpáticas quando têm um formato assim, digamos, mais enrolado.

Você consegue imaginar um coração feito somente com linhas retas? E as flores, os animais, as nuvens, as estrelas e tantas outras belezas desse mundão? Seria viável que o sol e a lua abandonassem sua redondez pra encaixar num padrão mais aprumado?

As linhas que delimitam nosso fim e o começo do próximo sempre foram livres para desenhar como bem entendessem. E cada pedacinho do nosso entorno surgiu e se mantêm até hoje nesse emaranhado de linhas, hora retilíneas, hora sinuosas, que garantem que na bagunça do universo haja sentido.

Então, acredito que devemos aceitar as formas do mundo como elas são, começando pelas nossas. Abrace as linhas curvas do teu corpo, abrace as ideias enroladas que te formam por dentro. Só se abrace. Se aceite, exatamente como é. E está tudo bem ter metas e sonhos pelos quais lutar, pelos quais mudar. Mas não tente trocar de identidade ou corpo só pra ter um par de linhas retas mais.

Até porque tudo que é muito nivelado termina sendo meio chato. Cansativo. É importante colocar um ziguezague aqui e ali pra jornada ser mais divertida. Nada perfeita, mas completamente real.

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Regiane Folter
Revista Subjetiva

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