As vozes da minha síndrome do impostor

André Ulle
Revista Subjetiva
Published in
2 min readFeb 8, 2021
Ilustração: Sébastien Thibault

Existe um peso muito grande em cada passo que dou. Esse peso se manifesta em uma simples pergunta: o que vão pensar?

Faço um exercício danado para tentar me esclarecer quem são os “que vão”. É abstrato, uma silhueta sem forma definida, mas é pesado e assustador.

Existe uma multidão que me observa, mas quando tento olhar nos olhos de pelo menos um desses indivíduos, sua face fica distorcida, e tudo o que vejo é o pavor nos meus olhos. Cresci com essas vozes, tão discretas, afirmando que o “ridículo” é o destino certo do próximo passo.

Vozes que diziam que minha poesia era idiota, que o romance que escrevo era brega e seria melhor mostrar o que produzo apenas para aqueles que não me conhecem. A minha santa e imaculada imagem permaneceria intacta, se aqueles que vissem meu trabalho, não pudessem associá-lo com quem sou.

Assumir quem sou foi o passo mais difícil, deixar de alimentar o poder dessa multidão ilusória, que nascia em mim e me dominava. No mundo lá fora existem muitas vozes, e não importa o quão ensurdecedora elas sejam, só machucam quando conseguem ressoar dentro de nós.

Meu maior medo sempre foi o de parecer idiota, e o mais doloroso foi durante muito tempo abrir mão desse “idiota” que amo tanto. Esse amor proibido por quem sou, essa negação de tudo aquilo que me torna único e especial, por medo dessas vozes sem sentido.

Sou minha poesia, meus textos, minha música, minhas piadas ruins e faço parte de tudo aquilo que produzo. Reconhecer esse amor pela minha essência e por todas as coisas que me tornam o que sou, me fez entender melhor o amor daqueles que estão perto de mim e se importam de verdade. O próximo passo é mais seguro quando dou ouvido as vozes reais, cheias de amor e que realmente importam, porque elas irão me socorrer caso tropece.

Aprendemos desde cedo à zelar pelos bons costumes, a cumprir com expectativas, e amar incondicionalmente o outro. Mas amar tão intensamente a nós mesmos soa quase como um desvio de caráter.
Fomos ensinados a criar um mundo de amor, abrindo mão dele.

Mas por favor, acredite, você precisa e merece ser amado intensamente por você.

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André Ulle
Revista Subjetiva

Escrevo para abraçar meus demônios e perdoar meus pecados