autoconsciência

olhar para um espelho não será mais a mesma coisa

Eliel Oliveira
Revista Subjetiva
4 min readMar 16, 2021

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Source || Vittude Blog

Você já se viu no espelho hoje? Quantas vezes por dias você faz isso? Sabia que esse simples hábito pode ser uma das maiores habilidades que temos enquanto seres humanos? Sim, a capacidade de se reconhecer no próprio reflexo não é compartilhada pela grande maioria dos animais. Já reparou no que acontece quando um cão ou um gato fica de frente para um espelho? Eles começam a ter um comportamento curioso e até engraçado, pois acreditam que outro animal está lá do outro lado. Curioso, não é?

Isso também pode acontecer com bebês de até 1 ano de idade. Em um estudo realizado em 1979, os psicólogos Michael Lewis e Jeanne Brooks-Gunn conduziram um teste mais sofisticado com espelhos. Eles utilizaram uma espécie de blush para colocar nos narizes de crianças entre 1 e 2 anos e observar o que acontecia ao entrarem em contato com a imagem delas no espelho. Apenas as crianças mais velhas tocaram nos próprios narizes para retirar o blush, mostrando assim que elas já haviam desenvolvido um certo nível de autoconsciência.

Já nós que somos adultos temos dois tipos básicos de autocosciência: a pública e a privada. A primeira refere-se à imagem que passamos para as pessoas (comportamento, avaliação e adequação). É quando estamos cientes daquilo que estamos apresentando em qualquer ambiente onde haja outros indivíduos (escola, trabalho, igreja, rua, etc.). A segunda está relacionada à imagem particular (aspectos pessoais, aquilo o que ninguém vê — apenas você). Geralmente quando você está sozinho ou fazendo alguma atividade de caráter introspectivo (a exemplo da meditação), você está em sintonia com os seus pensamentos, emoções ou as mais variadas sensações, independente de onde esteja.

Ninguém nasce plenamente consciente de si mesmo. Existe um longo caminho a ser percorrido, especialmente numa sociedade com um ritmo tão acelerado como a nossa. A preocupação constante com o trabalho, estudos, família, dinheiro, compromissos, ambições, e muitos outros fatores vão tomando conta do nosso tempo e consumindo a nossa energia dia após dia. Nesse ritmo, a reflexão sobre o eu e o nosso papel no mundo é muitas vezes deixada de lado. Preferimos não questionar aquilo que é nos apresentado pois é muito mais cômodo (afinal, por que vamos abrir mão da facilidade?).

Tudo bem estarmos ocupados, sendo produtivos e com a agenda cheia, porém isso precisa e deve fazer sentido para nós. Caso contrário, toda essa correria pode causar um grande desequilíbrio entre os três pilares fundamentais do ser humano: mente, corpo e alma — e a consequência disso é o desenvolvimento de vários problemas de saúde que já conhecemos, tais como a síndrome de burnout, depressão, ansiedade, crises de pânico, etc.

O cuidado que temos com o nosso eu mais profundo é a única coisa que pode nos ajudar a balancear melhor a forma como reagimos e lidamos com as mais variadas situações do dia a dia, sejam elas positivas ou negativas. Expectativas, inseguranças, tristeza, raiva, alegria, compaixão, tudo isso pode ser sentido e filtrado através de uma perspectiva mais pessoal e crítica. Você começa a se perguntar mais, “O que eu estou sentindo?”, “Por que eu estou me sentido dessa forma? Quando isso começou?”, “Onde e com quem eu estava?”, “Como posso vocalizar melhor esse sentimento?”, entre outras. Essa autoreflexão contínua pode e deve ser aprimorada à medida que você vai tomando consciência daquilo que constitui a sua essência. O caminho do autoconhecimento nunca termina, pois somos pessoas diferentes em momentos diferentes, com outros olhares e novas atitudes.

Source || Kaizen Journaling

Um exercício que pode estimular essa autoanálise e te aproximar cada vez mais de você mesmo é a escrita diária. Muitas pessoas têm relutância quanto à escrita por ser uma ativiade lenta, que exige concentração e foco (principalmente num contexto onde tudo o que é mais rápido e instantâneo é muito mais valorizado). Se você já tem o hábito da leitura, deve saber como a escrita pode ser uma forma saudável e construtiva para canalizar as suas emoções e fazer sentido das suas experiências cotidianas. Entre os benefícios dessa prática, estão: aumento da percepção das suas próprias conquistas e realizações diárias; prazer em estar na companhia de outras pessoas e compartilhar experiências com elas (redução da ansiedade social); reconhecimento dos seus erros e noção de responsabilidade por eles; melhor percepção de si mesmo, paciência e foco.

A autoconsciência é uma ferramenta de desenvolvimento pessoal, a qual não se limita a religião ou crença específica e possibilita uma experiência de vida muito mais significativa.

Source || BBC Earth

A borboleta é uma criação da natureza que não tem noção do quanto ela é bonita. Muitos de nós também não temos essa noção. Por isso, dedique um tempo para se enxergar um pouco mais. Olhe para o espelho hoje com verdadeira intenção. Independente das circunstâncias, essa consciência lhe permite estar aqui nesse exato momento, saboreando os pequenos detalhes e a beleza dessa perfeita confusão que é a vida.

Esse texto é baseado numa apresentação que fiz na empresa onde trabalho. Algumas adaptações foram feitas.

Recomendo a leitura do artigo “O perigo por trás do conforto” onde discorro sobre como toda a praticidade trazida pela a modernidade pode estar na verdade atrasando a nossa evolução individual e coletiva. Para ler, clique aqui.

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