Barbeiro e seu cliente discutem a distância da relação
Fabinho está há meses sem cortar o cabelo de Diego por causa da pandemia. Numa bela noite, decide ligar para seu cliente e botar pingos nos “is” sobre uma postagem que viu no Face.
— Tava com uma saudade danada de ouvir essa voz…
— Que porra é essa, Fabinho?
Fabinho ri tímido.
— Tô brincando, cara. Como é que tão as coisas, Diegão? Já tô até com saudade daquele teu cheirinho de One Million.
Mais risos de Fabinho. Diego não ri.
— Na paz, Fabinho… Que tu manda?
— Então, cara… — Fabinho começa a falar num tom mais sóbrio — e aquela foto que tu postou no Face?
— Esquece essa porra, Fabinho…
— Não, Diego… Espera… Era aniversário da tua filha, né?
— 1 aninho.
— O padrinho foi?
— Porra, Fabinho…
— Tu sabe que se eu fosse padrinho, eu teria ido, né?
— Supera essa merda, Fabinho!
— Eu estaria lá…
— Mas a gente tá no meio de uma pandemia, cara! Distanciamento social, porra.
— Tá, beleza. Mas não é esse o assunto, — Fabinho respira fundo, tomando coragem— e aquele teu cabelo?
Silêncio.
— Porra, Fabinho…
— Me fala a verdade.
Mais silêncio.
— Eu cortei com um cara aqui…
— Cortou com outro, Diego?
…
— Não tinha distanciamento social, porra?! — Exclama Fabinho.
— Foi meu marido…
—É sempre ele…
— Calma— Diego se defende,— ele sabe que tu não ia se proteger. Pediu pra eu cortar com outro.
— Tu sabe que isso é ciúme dele com a gente, Diego.
— Que ciúme o quê, Fábio! Tu é hétero, porra. A gente sabe a diferença.
— Você sabe, mas ele sabe?! — Grita Fábio, já com timbre de voz agudo.
Diego suspira. Nenhum dos dois fala. Fabinho decide romper o silêncio.
— Você sabe o que mais dói pra mim, né?
— Eu não queria te trocar, cara…
— Só me diz uma coisa…
— Juro que não queria, Fabinho…
— Para. Só quero que me responda.
Diego se aquieta. Fabinho toma fôlego e finalmente pergunta:
— Ele soube fazer tuas luzes?
Silêncio na linha.
— Não — confessa Diego.
— Porra! — Fabinho exclama, como quem comemora um gol ,— claro que não! Ele até acabou com o disfarce do teu cabelo! Tá parecendo uma cuia, essa merda!
— Desculpa, Fabinho. Eu sei que ninguém faz do jeito que você faz. Mas era o primeiro aninho da Lívia, meu marido tava preocupado…
— Faz o seguinte, Diego. Nem precisa voltar, tranquilo? Você passa aqui qualquer dia, pega teu reparador de pontas e segue teu rumo, beleza?
— Pode ficar com o repara-
— Diego, por favor. Me respeita. Respeita minha decisão.
Silêncio novamente. Diego suspira, já entregando os pontos.
— Então é isso, Fabinho? Vai ser assim? Por telefone? Depois de 7 anos de parceria?
Diego não vê, mas do outro lado da linha, Fabinho está de sobrancelha franzida e fazendo bico.
— Você sabe que podia ser tudo diferente, né, Fábio? Um pequeno gesto já resolveria tudo.
— Eu pensei que só eu sabia fazer do jeito que você gostava, Diego…
— Mas custava usar máscara, porra?
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