barulho de vento

carolina
Revista Subjetiva
Published in
2 min readMar 4, 2020

acabei de ouvir batidas na porta:
três, exatamente como a norma de batidas para se chamar alguém.
achei que poderia ser tu
uma surpresa em meio a esta noite chuvosa,
mas era o vento.
confirmei com a tremedeira das janelas:
tu continuas em outro país.

já o vento não, ele segue cá
molhando meus pés, pernas, rosto e cabelo com água de chuva
e tu,
continuas sendo só
uma pressuposição de poema
enquanto eu escovo os dentes,
escutando o vento balançar as janelas.
esse sim, me abraça e me encharca toda
toda a casa, todo o corpo,
mas não tu,
tu continuas em outro Estado.
sólido.
enquanto ele,
gasoso.

informação sobre a intensidade do vento em Portugal:
bateu-me à porta
hoje a noite
quase abri
quase
eras tu que estava lá parado
a sorrir e entrar depressa
encharcado e
com a pontinha do nariz gelado
antes mesmo deu te convidar
já tinhas entrado.

“é noite desde às 17:21
e eu fiquei em dúvida se iria cair ou voar com o vento do caminho”,
respondi a tua entrada enquanto
cuspia a pasta de dente na pia,
sem tu, só com meu reflexo de dentes limpos do espelho
e com o vento
de novo
batendo a porta
pra avisar
que tu não vais chegar
hoje.

--

--