Imagem: Unplash | Divulgação

Bifurcação

Tristan
Revista Subjetiva
2 min readFeb 20, 2020

--

Em partes eu quero sorrisos, afagos e abraços. Em partes eu sinto receios, indiferenças e descasos. Em partes quero lembrar que os socos que a gente leva têm como objetivo nos fortalecer (ao menos dizem). Em partes eu quero devolver esses socos com raiva e desdém do que parece ser um ódio momentâneo. Eu quero ter a empatia que não tiveram comigo. Eu quero ter a antipatia que me jogaram só por existir. Eu quero usar branco no velório de emoções que não me guiam mais. Eu quero usar preto na chegada de sentimentos alegres que aqui um dia fizeram falta.

Não me leve a mal, eu só não sei fingir sorrisos quando empatam a minha vontade de ser empático.

Eu quero culpar a vida sem carregar o peso de que eu preciso ser duas vezes mais. Eu quero inocentar o meu ‘não’ sem a preocupação de que isso vá causar a tristeza de terceiros. Caralho, como eu amo dizer não. Eu quero altruísmo, eu quero a naturalização do egoísmo. Eu quero ajudar o próximo, mas não quero desistir de mim. E não preciso. Eu quero que se foda a responsabilidade afetiva que romantiza a suposta rejeição e culpabiliza quem nem sempre está errado. Repito, nem sempre.

Eu quero a sorte de um desapego bem-vindo, sem lágrimas de partidas que já se esperam.

Eu quero quebrar esse coração de gelo. Eu quero construir uma barreira removível. Eu quero evitar a fadiga de um coração partido. Eu quero partir corações também. Eu quero falar de saudade, mas daquela saudade bem fodida. Eu quero falar de superação, mas mentir sobre ela. Eu quero falar de amor, mas o rancor também é pauta. Eu quero saber lidar com despedidas, mas um tchau pra mim já basta. Um aceno, um até logo. Eu quero poder ser fraco. Me bastar. Desistir. Recomeçar. Ou não. Eu quero.

Em partes, eu quero muita coisa. Em partes, eu não espero tanto.

Agora eu quero vencer a insônia.

--

--

Tristan
Revista Subjetiva

Distribuição gratuita de mágoas, receios e frustrações. E talvez um quê de ironia da vida.