Bolsonaro e os 6 estágios da negação da pandemia

Como o governo seguiu à risca um protocolo muito usado por negacionistas

Peterson Fernandes
Revista Subjetiva

--

A pesquisadora canadense Katharine Hayhoe, agraciada como Campeã da Terra em 2019, principal premiação ambiental das Nações Unidas, definiu um protocolo básico utilizado por todos aqueles que negam a existência do aquecimento global. Sim, existem pessoa que negam este fenômeno.

Descrição básica dos 6 estágios definidos por Hayhoe. | Imagem: Reprodução

Antes disso, vale pincelar sobre um aspecto que ajuda muito Bolsonaro em seu trabalho diuturno de desinformar a população — e explica seu êxito. Segundo a pesquisadora e psicóloga Karen Douglas, “as pessoas têm uma necessidade epistemológica de saber a verdade, além de uma necessidade existencial de se sentir seguras”. Assim sendo, em tempos de crise como o que passamos, essas necessidades ressaltadas por Karen não são atendidas, facilitando e dando espaço para as teorias da conspiração.

Recordo de uma frase do ambientalista George Monbiot, que fala que uma das razões pelas quais os negadores profissionais de mudanças climáticas têm sido tão bem-sucedidos em penetrar na mídia, é que a história que eles têm a dizer é o que as pessoas querem ouvir.

Nesse texto, demonstro como que as táticas negacionistas para ludibriar a população também vem sendo aplicadas aqui, no Brasil, na “gestão da pandemia” feita pelo governo Bolsonaro.

O protocolo de negação da pandemia no Brasil

Exercidos pelo governo Bolsonaro e seus cúmplices entre o povo

1. Não é real

No começo, deve ignorar a situação, com o objetivo de adiar a aplicação de medidas e ganhar tempo para definir a estratégia (leia-se: pensar em como fugir da responsabilidade).

1. Não é conosco

Quando já não der mais p/ ignorar a situação, é hora de falar que a situação até existe, mas está bem distante, tanto geograficamente quanto pelas nossas “defesas naturais”.

3. Não é tão ruim assim

Quando o problema já estiver em nosso território, é hora de dizer que o problema não é tão ruim assim.

4. É muito caro para resolver

Quando já estiver claro que o problema é ruim, chega a hora de dizer que será caro demais resolver. Ou seja, vai morrer gente sim, mas temos que escolher prioridades.

5. Temos uma solução milagrosa (que não funciona)

Quando entender-se que o problema precisa ser resolvido por mais que seja caro, será hora de apresentar soluções milagrosas para renovar as esperanças.

6. Agora é tarde

Quando comprovarem que a solução milagrosa não funciona, será a hora de jogar a culpa nos outros e frisar que “somos todos vítimas dessa tragédia”.

O objetivo é um só

O coronavírus é algo novo, sem receita para lidar. É óbvio que Bolsonaro não inventou o vírus, o que ele inventou foi uma forma de lidar. E não apenas inventou, mas divulgou e ensinou seus seguidores a fazer igual. Também definiu inimigos: governadores, prefeitos, cientistas, mídia. E ele, é claro, ficou como o mocinho, o grande líder que busca salvar a pátria contra tudo e contra todos.

Mas no fundo, o objetivo é um só: livrar-se da culpa. É o que o discurso diz. Propaganda pura. Como sempre.

“As pessoas me perguntam se eu acredito no aquecimento global. Eu digo a elas: ‘Não, eu não acredito, porque crença é fé, ou seja, a prova das coisas que não se veem. A ciência é prova das coisas que eu vi.” — Katharine Hayhoe

--

--

Peterson Fernandes
Revista Subjetiva

@petcafer — Publicitário, antropólogo, escritor e peladeiro.