“Brilhe a sua maneira. Seja a luz na escuridão de alguém.”

Revista Subjetiva
Revista Subjetiva
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5 min readSep 18, 2018

Vozes da Subjetiva é um projeto de valorização de quem escreve, onde apresentamos o lado pessoal e profissional de nossos colunistas através de um questionário variado. A iniciativa possui 1 ano e, desde então, possui grandes entrevistas.

Danilo Henrique é formado em Turismo pela Universidade de São Paulo, fotógrafa e escreve ensaios e crônicas na Revista Subjetiva desde seu início.

De que forma você chegou à escrita? Houve alguma influência muito importante na sua vida?

Danilo H. — Eu sempre escrevi umas coisas muito pessoais, mas nunca cheguei a publicar ou compartilhar isso com alguém porque sempre achei que ninguém leria.

Um dia eu estava voltando do cinema (fui assistir Os Oito Odiados) quando dei de cara com um post no Facebook de um amigo que me trouxe diretamente para o Medium, nesse dia eu tive um “estalo” dentro de mim que me levou a criar uma conta e começar a escrever.

Eu literalmente sai de casa uma pessoa e voltei outra.

Você escreve sobre sentimentos e relacionamentos, como você chegou a esses dois temas e qual a parte mais legal de escrever sobre?

Todos os meus textos pré-Medium eram sobre relacionamentos e coisas que eu sentia, mas não sabia transpor em palavras. Acho que eu sempre fui um bom ouvinte, sempre escutei as pessoas em seus momentos mais frágeis e isso me ajudou muito na hora de (finalmente) escrever.

Acredito que o ponto alto de falar sobre relacionamentos e sentimentos é que eu tenho a sensação de que há sempre alguém me escutando, seja na minha cidade ou em outro estado… às vezes a gente só precisa de um sinal, de um empurrãozinho e é isso que eu faço.

Seja no topo ou no abismo todo mundo merece uma companhia.

Suas experiências pessoais são peças-chaves naquilo que você escreve?

Às vezes sim, não procuro escrever sobre mim porque eu simplesmente não consigo me enxergar tão bem (estranho, né?), porém escrevo sobre as coisas que noto, sobre o que as pessoas fazem e não percebem por estarem “muito ocupadas” com suas vidas.

Passei muito tempo acreditando que determinadas coisas só aconteciam comigo, mas na verdade somos universais demais, todo mundo ama e todo mundo sofre diariamente por algo e, de uma uma forma ou de outra, está tudo bem. Uso pequenos exemplos pessoais para me unir a todas as pessoas que estão confusas ou perdidas por aí. Somos todos (incrivelmente) parecidos demais.

Sua escrita mescla poesia, crônica e ensaio literário, você acha que esses rótulos mais ajudam ou atrapalham na hora de escrever?

Eu não me apego tanto aos estilos na hora que escrever, prefiro desenvolver o enredo e ver qual estilo combina mais com a mensagem que eu quero passar, geralmente me saio melhor com ensaios, contudo, às vezes, me deparo com uma crônica ao final do processo… ao invés de padronizar tudo prefiro deixar como está. Tudo acontece por um motivo.

Você cursou Turismo na USP, de que forma sua formação profissional influenciou/influencia naquilo que você escreve?

Eu me desenvolvi muito com ser humano durante o curso de Turismo e muito do que vi na faculdade e no trabalho serviram de base para os meus textos, já escrevi sobre situações que vivi em ambos lugares, mas bem discretamente.

As minhas piores experiências no trabalho, por exemplo, me inspiraram a escrever um texto-desabafo que eu deixo secretamente invisível (ou Unlisted) no Médium, poucas pessoas o viram e acho que esse é um dos raros textos que eu escrevi para mim mesmo. Depois de tê-lo escrito eu deixei muitas coisas para trás e me tornei quem sou hoje. A escrita revela e liberta e a ela sou muito grato.

Sua viagem a Cuba, um país que possui uma forte historicidade e que é visto como polêmico/controverso por muitos, lhe possibilitou muitas inspirações para aquilo que você escreve?

Demais! O choque que eu tive ao chegar em Havana será algo que levarei para sempre comigo, voltei daquela ilha com uma sensação de que meus problemas não possuíam as dimensões que eu imaginava.

Fiquei sem internet por dias e percebi que minhas prioridades não precisam (e de fato não estão) dentro da tela de um dispositivo.

Tenho profundos questionamentos sobre as coisas que vi, mas acima de tudo tenho um sentimento forte por todas as pessoas que cruzaram meu caminho e aos lugares que visitei. Nunca tive tanto orgulho de ser Latino com “L” maiúsculo. ¡Viva Cuba!

Seus textos hoje possuem um grande número de leitores engajados, mas nem sempre foi assim, como você enxerga sua ascensão dentro da plataforma?

Eu encaro esse meu desenvolvimento como algo inesperado e bastante complexo, nunca imaginei que eu poderia trocar ideias e conhecimentos com tantas pessoas diferentes.

Comecei a escrever com o intuito de criar uma válvula de escape para a minha ansiedade e hoje a minha escrita serve também para me conectar com outras pessoas que passam por dilemas similares aos meus. Tal como está na minha Bio: “Não escrevo sobre mim, escrevo sobre nós”.

Diferente de muitos eu não apago meus textos antigos (que vivem na era pré-claps), pelo contrário, os deixo lá e às vezes volto neles para me lembrar das coisas que eu sentia.

São todos fragmentos de mim misturado com os fragmentos dos outros.

Se você pudesse deixar algumas dicas para quem escreve, quais seriam?

Escreva seu próximo texto como se ele fosse o último fragmento da sua existência, pense que no dia seguinte você irá desaparecer e, repentinamente, alguém irá querer saber de você e só haverá um texto deixado para trás, o que está escrito nele?

Imagine que o seu texto te representa 101%, com seus acertos e, acima de tudo, seus erros. Se alguém te julgar, agradeça. Se alguém te elogiar, agradeça. Se ninguém disser nada, agradeça a si mesmo por ter feito o melhor que você pôde. Coloque na ponta dos dedos o que tanto te aflige, escreva sobre o que te rodeia, ao invés de ser o sol seja a galáxia inteira. Brilhe a sua maneira. Seja a luz na escuridão de alguém.

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