Cadê os africanos no futebol brasileiro?

Pedro Souza
Revista Subjetiva
Published in
4 min readMay 17, 2017

Seria muito complicado falar da história do futebol no Brasil sem falar de nomes sul-americanos que atuaram por aqui, com ou sem muito sucesso. Desde de nomes mais antigos, como por exemplo, Rodolfo Rodríguez, goleiro de sucesso que atuou no Santos/SP, passando por Romerito (Fluminense/RJ), até os dias atuais, onde clubes como o Flamengo/RJ e o Palmeiras/SP possuem um número incontável de jogadores sul-americanos em seu elenco.

Romerito, meia paraguaio de destaque que atuou de 1984 a 1988, pelo Fluminense

São diversos fatores que contribuem para que jogadores de destaque em seus clubes hispânicos acabem por virem ao Brasil desfilar seu futebol. Eu apontaria principalmente o fator financeiro, já que o Brasil é a economia mais sólida, ou talvez menos instável, do bloco. Elencos mais caros, mais investimento, acabam por atrair jovens promessas, ou mesmo jogadores já consagrados. Mas uma coisa muito me chama a atenção: a ausência de jogadores africanos atuando no Brasil e, porque não, na América do Sul.

A História do Brasil e a História das Américas são recheadas de pontos de intersecção, principalmente a base econômica escravista. E como já é ponto pacífico, esses escravizados vinham da África, principalmente embarcando da costa ocidental. As trocas culturais e o surgimento de uma nova cultura, mestiça, crioula, fazem com que seja necessário entender como se desenvolveu esse tráfico negreiro transatlântico e paralelamente o desenvolvimento do que hoje chamamos de Américas e África. Processos simultâneos, de intensa troca comercial, cultural, linguística, demográfica.

Camaronês Joel é uma das raras exceções de africanos que atua em times de ponta no Brasil

Pois bem, voltemos ao futebol. Como um movimento cultural, político e econômico do porte do futebol, no Brasil, não importa jogadores africanos para atuarem em clubes médios e grandes? Não seria falta de qualidade, como alguns poderiam alegar, basta olhar pros campeonatos europeus para vermos que cai por terra esse tipo de argumentação. Não acredito também no fator financeiro, porque muitos sul-americanos usam o futebol brasileiro como trampolim, tendo em vista a credibilidade e a vitrine que somos. Tendo em vista as proporções da África, o que não deve faltar é talento, até porque futebol se pratica com muito pouco. Dois pares de pedra, uma bola improvisada e tá feita a pelada. Acredito eu que seja uma falta de visibilidade, uma falta de interesse nosso em relação a nossos irmãos africanos.

Falta ainda a dimensão da conexão visceral entre as Américas e a África fora da bolha dos cursos universitários de humanas. Quando se estuda essas conexões percebemos o quanto somos filhos de uma mesma família, mesmo que seja de uma família triste e infeliz como foi a escravidão. Ela acabou no Brasil fazem 129 anos, depois de muita luta do povo preto escravizado, muita resistência, muita afronta ao status quo. Mas ainda deixou mais do que vestígios, deixou marcas profundas, visíveis a olho nu. E o futebol é um instrumento para notarmos essas marcas.

Então fica a reflexão: quantos de nós amantes e torcedores já paramos pra assistir ou pelo menos dar uma olhada na internet sobre como anda o futebol africano, seus campeonatos, suas joias, seus ídolos? A Copa Africana de Nações sequer foi televisionada, nem pela TV paga. Mas a Eurocopa passou em TV aberta. A Fórmula 1 passa em TV aberta, e a popularidade em camadas populares dessa competição nunca me pareceu muito grande, mas hoje eu falo de uma geração pós Ayrton Senna. Em canal fechado ainda passam alguns campeonatos latinos, temos a Libertadores e a Sul Americana, então, mesmo que nas rivalidades, sabemos de seus campeonatos. Mas nem sequer na rivalidade conhecemos nossos parceiros do além-mar. Já sobre os europeus… Sabemos seus ídolos, seus campeões, suas taças e suas glórias. Acho que vale também a reflexão sobre o mundo asiático, mas agora com a entrada maciça do dinheiro chinês nos mercados mundo afora voltamos nossas atenções pra lá, inclusive nossa seleção conta com figuras que desfilam seu futebol sobre um insipiente campeonato chinês, que vem buscando reconhecimento.

Camarões campeão da Copa Africana de Nações 2017, após vencer o Egito por 2x1

Mas por hoje é isso, na era da informação, o que sabemos sobre os africanos e suas sociedades? O futebol é uma realidade concreta de que pouco sabemos sobre eles, apesar deles conhecerem a gente, pela nossa grandeza e supremacia (sim, 7 x 1 foi só um pequeno capítulo triste, vale lembrar que 2 x 0 em final ainda é maior que 7 x 1 em semi E O HEPTA JÁ É REALIDADE, PORQUE O HEXA JÁ É CERTO) no cenário do futebol.

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