Carta aos judeus ou Uma história da Inquisição

Edson Amaro De Souza
Revista Subjetiva
Published in
2 min readOct 13, 2020

São Gonçalo, 24 de Setembro de 2020.

Judeus e judias,

não sou judeu e não encontrei nenhum vestígio de judeus na minha família, mas admiro como vocês têm preservado sua cultura milenar. Sei como é mal contada a História de nosso país. O povo judeu é parte importante dele mas sua presença entre nós tem sido silenciada: a Inquisição reprimiu vocês e a História oficial omite até hoje os seus antepassados.

Tenho em minhas mãos um exemplar de “Casa Grande & Senzala”, de Sir Gilberto Freyre. Na página 416 da 36a edição há um desenho da Fazenda Colubandê, um edifício da época do Brasil Colônia que hoje está em uma área urbana de minha cidade, São Gonçalo, RJ. O que Freyre não diz e os pesquisadores relatam por aqui é que os primeiros proprietários desse edifício foram cristãos-novos, judeus que fingiram aceitar o Catolicismo para não morrerem. E uma peculiaridade que chama a atenção nessa fazenda é que há um poço não no gramado, mas dentro da casa grande, a salvo de olhares curiosos e delatores. A explicação disso é que esse poço teria servido para que os judeus fizesse o ritual da mikvá, o banho de purificação, sem que os inimigos de Israel os delatasse.

Sei que a Inquisição os alcançou e eles perderam aquelas terras. Passaram-se os anos e, na República, o casarão foi sede do Rotary Club e depois foi vendido ao governo do estadual, que ali instalou o quartel da Polícia Florestal, mas esse quartel foi fechado na gestão de Sérgio Cabral Filho, esse mesmo que foi preso pela Lava- Jato. Hoje, esse belo edifício está entregue às baratas: o altar barroco da capela de Sant’Anna foi roubado e tememos que o pior aconteça.

Tal como os judeus choraram nas margens dos rios da Babilônia a destruição do templo, eu tenho chorado o descaso do poder público para com essa relíquia. E para chamar a atenção não apenas dos judeus como do público leitor, escrevi um conto em que relato o que vocês leram aí em cima. Nessa história, um professor de nossa cidade leva um fotógrafo francês até a Fazenda Colubandê para registrar o que ainda resta desse monumento.

O conto se chama “Tem sushi no Colubandê” e faz parte da antologia “Meu Coração Não Está em Quarentena”, que será lançada pela Psiu Editora. Quem quiser poderá contribuir com a campanha até 24 de outubro. Ficarei honrado se encontrar sobrenomes judeus na lista de apoiadores. https://www.catarse.me/coracaodequarentena?ref=ctrse_explore_pgsearch&project_id=122819&project_user_id=1378729

Atenciosamente,

Edson Amaro.

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