Carta de uma mulher indigna

Denise Maliska
Revista Subjetiva
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2 min readDec 17, 2019
Photo by Bianca Berg on Unsplash

O tempo está passando, corre…

E a vida permanece na mesma sincronia de todos os dias miseráveis. A beleza é uma maldição eterna em torno do bizarro inalcançável. Se a vaidade soubesse lidar com isso jamais nos desejaria. Por quê?

O amor não é pra mim, eu nunca soube disso. Mas aceito a realidade de que passa-tempo, passatempo e passa o tempo… E nada!

Vou em busca do que talvez seja minha anestesia. Poder.

Para que transformar sua juventude em luxúria?! Julgavam eles todos.
Para quê?! Talvez fosse esse meu único gole de alívio. Em mim mesma existe a solidão eterna, e ninguém conseguirá exterminar esse grande vazio que repele todos de perto de mim.

Eu aceito.

Resigno meu destino, esta condição triste e fútil que me veio ao nascer. Então, que eu caminhe para a única coisa que vim fazer nesse tempo.

A luxúria sempre existiu e a hipocrisia tentou envenenar, mas algumas pessoas não existem para amar, ou são proibidas de vivê-lo.

E fim, ponto final.
Como posso me privar do que nunca foi meu? Como posso “abrir mão de amar”, se o amor nunca existiu na minha vida? Diziam eles.
Estou me privando, nessa transmutação da solidão em virtude, você vai se corromper em algo que nunca desejou ser, diziam eles.

Talvez seja a única coisa que me caia em mãos para fazer, porque devo me atar em respostas inúteis e discursos vazios de quem não está na minha pele?
Não sabem do buraco que se carrega sobre a própria vida. Estamos vivendo na necessidade de se fazer válida a nossa existência, à prova na margem de diferenciação estrutural.

Se a vaidade soubesse a dor que a beleza traz, ela com certeza nos descartaria, que então seja solidão, e eu permaneça vazia. Vocês não sabem, não sentem e nunca poderão entender. Ponto final. Sou alguém que se rendeu à praga que é ser estigma.

E lá se foi mais uma mulher que morreu em um dia, com as dores que o mundo depositou dentro dela.

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Denise Maliska
Revista Subjetiva

Escritora e poetisa. Escrevo, linhas, devaneios e tudo o que me resta. Sem mais descrições.