Chapolin e a bravura do cão Coragem

Rafael Moreno
Revista Subjetiva
Published in
3 min readFeb 6, 2020
Direitos de Imagem: Globosat

O ano era 1987 quando Roberto Bolanos, conhecido artisticamente como Chespirito, concedeu uma entrevista a Jorge Guinzburg. Ao ser perguntado o que pensava sobre heróis como Superman e He-Man, Chespirito responde assim:

“Não são heróis. Herói é o Chapolin Colorado. E isso é sério. O heroísmo não consiste em não sentir medo, e sim superá-lo. Aqueles que não têm medo. Batman e Superman são todos poderosos e não podem sentir medo. Chapolin Colorado morre de medo, é burro, tonto e etc. E consciente dessas deficiências, ele enfrenta o problema. Isso é um herói. E perde. Outra característica dos heróis. Eles perdem muitas vezes. Depois as suas ideias triunfam. Entretanto, os heróis… quantos fuzilados conhecemos?”

Como podemos notar, pelo próprio Chespirito, o Chapolin foi construído para ser intencionalmente o contraponto de todos aqueles heróis americanos. Altos, belos imponentes que nunca hesitavam no menor sinal de perigo.

Apesar de nos sentirmos protegidos em certo nível, Chespirito argumenta que não nos sentimos representados, afinal de contas, não nos parecemos nada com eles e também não temos toda coragem que eles possuem.

Então como lidamos com os nossos vilões?

A mensagem que Chapolin carrega nos diz sobre termos coragem mesmo quando sentimos medo, porque ter medo é um dos instintos mais naturais do ser humano.

E o que seria, ao certo, ter coragem ou ser corajoso?

Em sua etimologia, a palavra coragem vem do Latim coraticum, uma derivação da palavra coração. Isso explica porque, em épocas antigas, o coração era símbolo da coragem.

Um dos significados da palavra coragem no dicionário Michaelis é “força ou energia moral diante do perigo”. Segundo o dicionário Aurélio, temos o entendimento de coragem como a “bravura em face do perigo”.

Diferente do que pensamos, a coragem não é oposto ao medo, e sim a capacidade de agir apesar do medo.

Se imagine como um cão de pelugem rosa que mora em uma casa isolada num endereço chamado Lugar Nenhum, localizado em algum lugar do Kansas. Você compartilha essa adorável moradia com seus donos, um casal de velhinhos. Muriel e Estácio. Agora imagine que esse lugar é infestado por demônios, fantasmas, alienígenas e seres mais estranhos possíveis.

Esse é o enredo de Coragem, o Cão Covarde, um grande exemplo de se agir apesar do medo. Coragem não faz questão de esconder que sente medo, temor, receio, preocupação com cada caso bizarro que bate à porta. Suas pernas tremem, ele late com medo, grita, corre, se machuca, foge e, vejam bem, apesar disso, consegue salvar a cada episódio seus donos, que não fazem ideia dos perigos que os assombram.

No caso do Coragem, de maneira alguma ele apresenta covardia. Ele tem medo e é normal sentir medo. O que parece definir coragem e covardia é a maneira de como você lida com os percalços que te fazem tremer na base.

Talvez, o correto seria Coragem, o cão Medroso. Pois sabemos que ele se borra de medo, mas tem coragem para seguir em frente.

Aqui é onde o Chapolin, Coragem e nós nos encontramos. Não precisamos ser altivos, belos, musculosos, de peito aberto e postura imponente para o que der e vier. Isso tudo, no final, não significa muita coisa quando não temos coragem.

E coragem sim, é algo absolutamente forte de se ter, porque ela não anula nossos medos e inseguranças, mas faz com que enfrentamos todos os percalços, com valentia de quem, apesar do medo, escolhe seguir em frente.

Numa era cinematográfica heroica e num momento que nos exige mais e mais, ser corajoso é o nosso maior ato heroico.

Como o Chapolin e o cão Coragem.

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