Choro Preto

Cumade
Revista Subjetiva
Published in
2 min readOct 25, 2019
Praia de Maragogi — AL

A cor da minha dor
Escorre do meu sangue
Numa lágrima sem sabor
Agora preta sua cor

Choro lá de além mar
Atraca já na costa
E pra cessar só resta
Estas mãos cá, já postas

Escorre entre os meus dedos
Pois eu sou todo este mar
Sou o pixe desta praia
Luto e não paro de lutar

Sou o mesmo relegado
Reduzido a alegoria
Eles odeiam minha presença
Porém amam minha poesia

E nas preocupações do seu bolso
Eu não sou nem a lembrança
Pois vale mais uma piada de mau gosto
Do que a morte de uma baía

Cá estou de peito inchado
Por bravar esta peleja
E do pouco ainda resta
Este grito relampeja

De chorar já não caleja
Sofrer é parte do meu dia
Matam aos poucos o meu povo
E agora até a natureza

Quando machucam estas praias
Minha carne também sangra
Da minha pele cai o óleo
Da mácula goteja

Mas não morro, dou certeza
Vencerei mais uma guerra
Serei outro bem mais forte
Brotarei desta tapera

Lá do norte ele virá
O rugir deste meu grito
Toda noite escutarão
A forte voz dos esquecidos

Guardem fundo sua vergonha
Já não vale a desculpa
Poderiam ter agido
Mas viraram as cabeças

Só nos deram de resposta
A pior das apatias
Não soou uma palavra
Só o silêncio desta covardia

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