Colapsei junto à Manaus

Leandro Fasoli
Revista Subjetiva
Published in
3 min readJan 15, 2021
Imagem: Divulgação Valor Econômico / Foto: AP Foto/Edmar Barros

Ontem. 14 de janeiro de 2021. Foi um dos meus dias mais difíceis, desde o início da quarentena pela pandemia. Foi o dia em que eu colapsei junto à Manaus. Foi o dia em que eu me mantive forte para terminar um dia de trabalho, e poder desabar em prantos ao final do dia. Manaus colapsou! Como uma amiga próxima disse — “um caos previsto” — e realmente, a frase descreve o que foi pra nós o dia de ontem. Um caos previsto!

Caos esse que começa, em 2018 com a vitória de Jair Bolsonaro à presidência da república. Lembro claramente, na efetivação do resultado pelo Fantástico, caí em prantos, um choro compulsivo, uma crise de ansiedade absurda, com horas de duração. O caos começava ali, tudo o que era proferido ao léu em corrida eleitoral, seria externalizado em atos a partir dali. Era o início de uma era preconceituosa, homofóbica, transfóbica, negacionista, incitadora de ódio e violência, uma era da volta da fome, volta à pobreza, do fim dos programas sociais, do aumento do abismo social e do desemprego. A milícia chegava ao poder, inflada pela porcentagem de sua vitória. Todo o caos estava previsto e calculado. Tinha sido alertado. Avisamos. Tentamos convencer qual era o limbo que podíamos ir. Mas nada adiantou. A ignorância se fez e reinou.

Ontem. Contadas duas semanas passadas das aglomerações das festas de final de ano. Veio o reflexo do descaso. Da desinformação proferida à exaustão, pelo líder e sua corja negacionista. Oxigênio acaba, revezamentos entre os únicos cilindros disponíveis, por apenas, poucas hora. O que era para ser um centro de recuperação, passa a ser uma ‘câmara de asfixia’ como noticiam os jornais pelo Brasil. Os insumos acabaram. Os agentes médicos se desdobram como podem. Morte, morte, e mais mortes. Pessoas morrendo sem ar — um grande paradoxo do que até então dizem ser o pulmão do mundo — não somente pela síndromes respiratórias da COVID. E o presidente da república, nada faz. Só sabe dificultar, atrapalhar, proferir mentiras, informações falsas. Sem planejamento. É um grande aliado do vírus e da morte.

Era sabido que o destino seria trilhado para esse caos. Mas presenciar diante dos meus olhos, é estarrecedor. Desolador. Desumano. Negligente. Alguém que tenha passado pelo dia de ontem, sem não ter sentido nenhuma empatia, ou faz parte da corja negacionista perversa ou já está morta de humanidade. A dor de Manaus, é a dor de todos nós. É a dor de quem tentou, falou, argumentou, alertou, sobre o perigo de se eleger Bolsonaro e não foi ouvido. E foi recebido com ataques. Com desprezo. E hoje esse desprezo se volta contra todos. Na totalidade de sermos uma nação governada por lunáticos negligentes.

Lembro-me de minutos antes da vitória de Bolsonaro. Eu me recolher em orações e súplicas. Que recebi um alerta do universo (aqui eu denomino Nossa Senhora Rosa Mística, com quem eu conversava naquele momento íntimo), a seguinte frase:

“Infelizmente, alguns seres humanos não conseguem ou não querem ver o mal que estão prestes a fazer. Então esses mesmos seres humanos, precisarão sentir esse sofrimento, para então entenderem e mudarem suas formas de pensar”

É algo clichê e muito doloroso de se ouvir. Mas desastrosamente é o que vivemos hoje. Tanto negacionismo, mentira, e ódio, apenas puderam nos trazer à esse cenário de calamidade. Onde quem estava cego, enxergou, e se envergonhou. E quem sempre foi perverso, continuou perverso mesmo.

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