Communion — um “papo de meninas” sobre amor

Resenha de Communion: The Female Search for Love por bell hooks

Carol Correia
Revista Subjetiva
4 min readFeb 10, 2020

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Capa do livro Communion

Communion: The Female Search for Love faz parte de uma trilogia escrita por bell hooks sobre amor. Iniciando por All About Love: New Visions, seguido por Salvation: Black People and Love e finalizado com Communion.

hooks costuma expor sua vida pessoal para utilizar como exemplo — e esse livro não é nenhuma exceção. Na verdade, creio que em Communion, hooks está mais aberta do que nunca a meninas e mulheres que desejem conversar sobre amor. Especifico o gênero feminino, não porque o gênero masculino seja proibido de o ler, mas sim porque a escritora se coloca enquanto uma mulher em sua jornada pessoal ao amor como ponto de partida.

O livro contém dezesseis capítulos e um prefácio com uma agradável conversa entre hooks e a leitora sobre suas percepções sobre amor.

Dentre os tópicos que ela abordou, talvez os que mais me tocaram foram sobre: o amor enquanto um tema necessariamente de mulher; amizade; e as perspectivas de gerações femininas diferentes.

O amor enquanto um tema necessariamente de mulher

hooks fala

Mulheres falam sobre amor. Desde pequenas, nós aprendemos que conversas sobre amor são narrativas generizadas, um tema feminino… O feminino na cultura patriarcal nos marca desde o início como indignas ou não dignas o suficiente, e não deveria ser nenhuma surpresa, que nós aprendemos a nos preocupar, em maior parte como meninas, como mulheres, sobre se nós somos dignas do amor. [tradução livre]

E como assuntos tidos como femininos são vistos como triviais e bobos, afirmar sobre sua vontade de amar e ser amada é equivalente a se apresentar enquanto alguém frágil.

Contraditoriamente, ainda é esperado que mulheres apenas se satisfaçam quando estiverem em um relacionamento amoroso com um homem. Afinal, não é esse o final feliz de todos os contos de fadas? De forma, que cotidianamente assumam que quaisquer mudança de humor de uma mulher esteja diretamente conectado a um homem, ou ainda a falta de um homem.

Amizade

A importância de ter amigos em nossa vida não é novidade, assim como não é novo afirmar que amizades podem coexistir com um relacionamento romântico. No entanto, hooks explica como ambos somam a vida enquanto communion.

Veja

Significantemente, amizades românticas podem coexistir com o fato do parceiro ter contraído matrimônio, porque sua razão de ser não é substituir o casamento, mas sim abrir a possibilidade de amor verdadeiro comprometido e sustentado existindo entre amigos — e não apenas amigos do mesmo gênero. Não importa que o compromisso no relacionamento romântico tenha mudado. Aquelas de nós que têm amizades românticas de anos, algumas das quais são mais antigos que nossos casamentos, não tememos que estes compromissos irão fracassar se criarmos relações basilares. [tradução livre]

Perspectivas de gerações femininas diferentes

As observações de hooks sobre mulheres mais velhas e as novas gerações de mulheres são primorosas —e creio que poderiam ser mais desenvolvidas neste livro.

A nova geração de mulheres costumeiramente está confusa sobre as mensagens na cultura popular de como uma mulher deve ser. E as mulheres mais velhas costumeiramente são cínicas sobre o amor.

Ela analisa

Pense, por exemplo, sobre a quantidade de nossos pais que se mantiveram ou se mantém em casamentos de mais de 50 anos em qual a mulher está miserável e infeliz. E ainda o mundo em que elas foram criadas as diziam que esse era o destino das mulheres. Hoje, a massa de mulheres — mulheres que jamais se definiriam como feministas, que podem até sentir que suas vidas não foram afetadas de nenhuma forma pelo movimento feminista — são empoderadas para deixar relacionamentos quando elas estão aterrorizadas ou miseráveis ou talvez tratadas porcamente, mas ainda meramente desalmadas. Deixar esses laços abre espaço para a possibilidade de conhecer o amor em sua vida. A geração passada do permaneça-casada-para-sempre foi e costumeiramente é cínica sobre o amor. [tradução livre]

Conclusão

In fine, o presente livro é muito bom. A linguagem utilizada é agradável, a leitura flui muito bem, os capítulos são desenvolvidos para ao fim se conectarem sobre o amor e a histórias pessoais de hooks são carismáticas. No entanto, creio que depois de ter lido All About Love e Salvation, Communion não atingiu minhas expectativas. Mas não há como negar que as palavras de hooks são sempre tocantes.

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Carol Correia
Revista Subjetiva

uma coleção de traduções e textos sobre feminismo, cultura do estupro e racismo (em maior parte). email: carolcorreia21@yahoo.com.br