Crítica: Okja (2017)

Nathally Carvalho
Revista Subjetiva
Published in
4 min readJul 1, 2017
Mika e Okja, o companheirismo e o amor além das palavras.

O cinema é um mundo mágico que quando construído e transmitido de forma coerente, se abre para o espectador, falando e tocando diretamente no coração, na alma. Quando as cores, os enquadramentos, a atuação, a montagem, e todas as técnicas cinematográficas trabalham em favor de uma boa história, a flecha que é atirada através da tela escura — ou neste caso, através da tela da televisão, acerta o alvo em cheio, provocando sorrisos, lágrimas, sustos, identificação, reflexão. E é exatamente isso que acontece quando vemos Okja (2017).

Emocionante e completamente provocativo, o longa-metragem do sul-coreano Joon-Ho Bong passeia por todos os gêneros possíveis, construindo uma narrativa coerente, humana e que acima de tudo nos instiga à reflexão. Okja conta a história de Mikha (Seo-Hyun Ahn), uma garotinha coreana que vive nas montanhas com sua super-porca, Okja. Criada por meio de manipulação genética, Okja faz parte de uma experiência do conglomerado alimentício, Mirando, que querendo se reerguer moralmente, lançou o concurso do melhor porco, enviando 26 porquinhos transgênicos para serem criados por fazendeiros ao redor do mundo, durante dez anos.

O primeiro ato do filme é primoroso! São mais de 10 minutos de apresentação da vida de Mikha e Okja, sua rotina na natureza, e todo o amor e companheirismo construídos ao longo dos anos. Precisamos desses minutos para entender e principalmente para sentir, juntos com as personagens tudo que elas viverão dali para frente. Efeitos visuais, ambientação, atuação, tudo trabalha para a nossa identificação com as personagens principais. Quando já amamos Okja e entendemos a relação entre ela e a menina, ficamos completamente sem chão quando a vemos ser escolhido como a porca ganhadora do concurso, e levada para a “apresentação” em NY.

Mija e Okja nas montanhas.

Mikha destemida e completamente decidida a salvar a amiga, sai de sua montanha e embarca numa viagem ao mundo real e cruel da civilização moderna. Alternando fantasia, aventura, ação e humor, Joon-Ho Bong constrói um início de segundo ato satisfatório e divertido, até sermos confrontados com a dureza dos nossos hábitos e com a feitura das coisas, que insistimos em ignorar. Então o amor explode na tela de forma colorida, em câmera-lenta e com a trilha sonora perfeita, deixando nossos corações completamente entregues à mensagem que Joon-Ho Bong quer nos passar.

Dali para frente fica impossível não segurar as lágrimas, e não repensar em como nós contribuímos para que a fórmula capitalista dê certo, prospere e impere absoluta. A narrativa é uma fábula politicamente engajada, contra os maus tratos aos animais, que usa do afeto, do amor para fazer com que entendamos e sintamos o ponto de vista de quem defende a causa. E funciona! É impossível não se sensibilizar com o terceiro ato! E o grande parte do trunfo narrativo está na humanização e identificação construídas no primeiro ato. Algumas dirão que há cenas desnecessárias, ou até mesmo forçadas, mas acredito que elas precisam estar ali para que sintamos como o sistema venenoso no qual estamos inseridos — e ajudamos a manter, é cruel, é doloroso… é mortal.

Okja é um mergulho doído e ao mesmo tempo libertador na cadeia produtiva capitalista de alimentos industrializados, mas é também um estudo lindo e lírico da mais profunda ligação que podemos ter como seres vivos: o amor! Terminamos amando a super-porca de olhos doces, e querendo salvar todas as Okjas espalhadas pelo mundo, e respeita-las deixando que vivam como criaturas livres que devem ser. Somos tão amáveis com cães e gatos, os criamos como filhos, mas não nos importamos com os animais que são criados de forma manipulada, desumana e sofrem todo tipo de maus tratos, simplesmente para servirem como alimento para nós. Obrigada Joon-Ho Bong por deixar que Okja e Mija nos mostrassem o amor em todos os relacionamentos e mais um significado para respeito ao próximo!

Okja está disponível em todo Brasil, pela Netflix.

“Me deixe deitar ao seu lado
Me deixe ficar sempre com você
Venha, deixe-me te amar
Venha me amar de novo”

(Annie’s Song — John Denver)

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