Damares e o projeto político sobre gênero do Governo Bolsonaro

Thaís Campolina
Revista Subjetiva
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3 min readJan 4, 2019

O famigerado discurso sobre gênero da Damares também se relaciona com a perda de direitos reais. Não tem nada de isolado nele. Ele anda de mão dadas com a perseguição dos direitos das mulheres e dos LGBTs.

Não é sobre cores de roupas simplesmente. É sobre a manutenção de uma ideologia heteronormativa que coloca mulheres como seres que devem obediência aos homens e que devem ter como objetivo de vida a procriação.

O discurso da ministra está casado com o do Bolsonaro e seus demais ministros e apoiadores e demonstra que o feminismo é um dos inimigos desse governo. Bolsonaro sempre votou como deputado nesse viés, imagina agora que sabe que foi eleito com base na igrejas.

Eles vão governar para colocar as mulheres no seu devido lugar de acordo com a visão conservadora e a gente bem sabe o quanto esses papéis que nos são impostos se relacionam diretamente com questões como violência doméstica, cultura do estupro e divisão sexual do trabalho.

A retirada dos LGBTs das diretrizes dos direitos humanos, por exemplo, também tem tudo a ver com esse blablabla da Damares e com os planos desse desgoverno. A defesa dos papéis de gênero envolve também a perseguição dos gays, das lésbicas, dos bissexuais e dos transgêneros porque eles representam uma quebra do que se espera do que eles entendem como família, por exemplo.

Essa declaração sobre meninas vestirem rosa e meninos vestirem azul seria um exemplo de cortina de fumaça se esse discurso fosse isolado, mas não é. Damares pode até ser uma peça estratégica no sentido de ganhar foco e ser uma pessoa mais fácil de “bater”, mas o discurso dela em si é o discurso desse desgoverno e tem apoio de uma grande bancada no legislativo.

Quando questões como essa são colocadas como se não importassem, percebe-se o quanto a estratégia deles de soltar bombas diárias, mas de pautas reais, conta com a existência de um backlash por parte da suposta resistência.

Esse backlash não é exclusividade das pautas de gênero. Tem muita gente dessa suposta resistência que sempre joga as questões dos indígenas e quilombolas pra escanteio, por exemplo, e esse governo conta com isso. Eles querem nos cansar e é mais fácil fazer se isso se os ataques incessantes feitos por eles criarem disputas dentro da parcela de pessoas que se coloca como oposição.

O que pode tornar essas declarações da Damares uma boa cortina de fumaça é a reação com zero aprofundamento de uma parcela de pessoas. A roupa não deve ser o foco e sim mostrar a relação entre os padrões de gênero tão reiterados em nossa cultura com a realidade de violência e discriminação de grupos como os LGBTs e as mulheres.

A arma deles é a desinformação e o uso do senso comum para fomentar ódios que já existem na estrutura da nossa sociedade, então é preciso que a gente se esforce para dialogar, apontar relações, divulgar informações, trabalhar com dados e organizar atos, aulões públicos e afins.

Toda resistência que organizarmos precisa levar em conta que os alvos eleitos por esse projeto político estão relacionados em algum ponto. Além da questão do agronegócio, a perseguição dos indígenas, por exemplo, também tem a ver com esse projeto de governo misógino e homofóbico porque um dos interesses deles é fazer cair por terra toda a ideia de estado laico e respeito à pluralidade de modos de vida. Há o objetivo de evangelizar os indígenas, por exemplo.

Fiquemos atentos. O projeto político em questão não busca somente implantar simplesmente um neoliberalismo agressivo, é bem mais que isso, ainda que eles visem o lucro em tudo que fazem.

Texto publicado originalmente em minha página no Facebook.

Obs: Esse texto surgiu a partir de uma thread que fiz em minha conta pessoal no Twitter. Para acessar a thread, clique aqui.

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Thaís Campolina
Revista Subjetiva

leitora, escritora e curiosa. autora de “eu investigo qualquer coisa sem registro” e “Maria Eduarda não precisa de uma tábua ouija” https://thaisescreve.com