Depósitos ambulantes.

Vitória Castilho Cohene
Revista Subjetiva
Published in
2 min readDec 19, 2019

Vagando por aí.

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Nós temos mania de depositar coisas nas outras pessoas. Coisas diversas.
Segredos, expectativas, sentimentos, planos, histórias e por aí vai.

Literalmente, por aí vão.
Afinal, já parou para pensar em quantas pessoas cruzaram a sua vida, armazenaram informações sobre você e foram vagar por aí?

Isso me assusta, porque tem muito de mim vagando por lugares quaisquer.
Eu daria a desculpa do meu mapa astral, mas ele não explica muito. Poderia tentar justificar dizendo que eu falo muito mesmo, porque é cultural do nosso povo brasileiro, um povo caloroso, né? Mas sendo curitibana, quem eu quero enganar?

Verdade seja dita, eu falo muito. Não no elevador, em Curitiba não tem dessas coisas. Nem para o pessoal conhecido com quem eu cruzo na rua, que aliás eu evito, que dirá nas salas de espera, no transporte público ou nas filas dessa vida. Mas experimenta dar uma leve abertura e demonstrar que está disposto a ouvir, que você provavelmente vai se arrepender na hora. Com qualquer alarme falso de sinal de intimidade, eu /sem perceber/ já despejo todos meus sentimentos, crises existenciais, dúvidas e reflexões de vida.

Isso assusta os outros. Talvez seja o motivo pelo qual muitos dos que me ouviram, foram vagar por aí. E eu fico aqui, colecionando relacionamentos vagos. Sempre que alguém preenche essa vaga de ouvinte, ela volta a ficar livre rapidamente.

É assim, sem ampla concorrência.

Leu até aqui?
Cuidado. Você já é um forte candidato.

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Vitória Castilho Cohene
Revista Subjetiva

Tinha tantas certezas, mas agora só tem a de que escrever alivia.