Depois a louca sou eu?

Le Chieppe
Revista Subjetiva
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2 min readMay 29, 2021
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Tati Bernardi que me perdoe mas preciso pegar emprestado o título de seu livro. É por uma razão de bem maior, garanto.

Recebi hoje cedo uma mensagem que poderia ser taxada de raivosa, como bem colocado por uma amiga. Agressiva, até.

Era de um menino que fiquei em 1930 digamos assim. Nossa história foi curta e grossa. Definitivamente ele não era o cara certo pra mim ou para qualquer um que tenha um pouquinho de amor próprio (na época me faltava um tanto).

Mas como qualquer história tem dois lados, calei. Joguei pra baixo do tapete aquela sujeira de relações humanas. O jogo de ciúmes meio doentio, as falas misóginas, as tentativas bizarras de me colocar para baixo.

Eu dei de ombros para todo um passado, mesmo que curtíssimo, de manipulação de sentimentos. Achava que era o melhor a se fazer, considerando como tudo terminou relativamente ok. Percebam que “bem” é uma palavra forte.

E quando eu acordei com essa mensagem, o baque foi grande. O ego dele fez questão de invadir um espaço que pela graça divina já não via tamanha infantilidade há anos.

Mas como uma pessoa que quer ser boa, apesar das incontáveis falhas, tentei entender. Tentei me colocar no lugar dele, compreender. Pedi desculpas sem saber muito pelo o que me desculpava.

Em troca recebi mais mensagens que, agora, definitivamente poderiam ser taxadas de raivosas. Me vem uma vontade de dizer malcriado, mas acho que seria injustiça com as mães do Brasil… Difícil criar homens que serão para sempre meninos.

E depois a louca sou eu?

Que como mulher preciso sempre me diminuir para fazer caber homens que enxergam o próprio umbigo como o centro de rotação da Terra?

Que preciso ignorar as atitudes abusivas, por já terem passado sem eu me dar conta?

Que preciso aceitar uma relação que distribui afeto como migalhas?

Depois as loucas somos nós?

Que no final somos invariavelmente taxadas de doidas e paranoicas.

Mentirosas, afinal, ele nunca foi assim.

Exageradas porque já passou, né?

Que precisamos o tempo todo calar, servir, comportar, acatar?

É, na verdade acho que as loucas somos nós. Prefiro eternamente ser louca a ser sem caráter.

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