Deus, Moisés e as manifestações sociais
Nicolau Maquiavel (1469–1527) foi um pensador, historiador e diplomata florentino que, entre outras obras, escreveu O Príncipe (1513), um dos melhores e mais famosos livros de ciências políticas da história. Nessa obra, destinada a Lourenço de Médici, o autor sugere condições para que um monarca seja capaz de conquistar, reinar e, principalmente, manter seu poder absoluto. Entre conselhos e instruções, Maquiavel cita exemplos de líderes que “receberam da sorte apenas a oportunidade” e, entre outros citados, fala de Moisés. Também pudera, Moisés foi um líder religioso, político, legislador e profeta Hebreu que, entre tantos feitos, foi responsável por libertar o povo da maior nação da época, o Egito.
O povo Hebreu, que mais tarde torna-se a nação de Israel, vivia em regime de escravidão e exploração há 400 anos e Moisés, segundo as Escrituras, foi o escolhido por Deus para libertá-los.
Vivemos um tempo onde as revoltas sociais são altamente questionadas por setores da sociedade e, taxados de vândalos, os movimentos sociais que lideram manifestações são duramente atacados. Embora todas as grandes mudanças sociais — como, por exemplo, as revoluções francesa, russa, independência dos EUA e, recentemente no Brasil, o fim da ditadura militar — tenham vindo através da revolta sociais e manifestações “violentas”, ainda sim, poucos reconhecem como algo necessário na luta de classes.
Mas qual a ligação que Moisés e o povo Hebreu tem com os movimentos sociais e a luta de classes na atualidade? Simples, o mesmo método de libertação: a revolta social.
Isso mesmo, o próprio Deus, dentro de sua onipotência, para livrar o oprimido do opressor, usa métodos que fariam muitos hoje xingá-lo de vândalo.
Segundo a Bíblia, no livro que relata a libertação do povo Hebreu, em Êxodo capítulo 7 ao capítulo 12, Deus fere a nação do Egito com o que conhecemos como As Dez Pragas do Egito.
Entre elas, Deus transforma as águas do Egito em sangue, matando peixes, prejudicando todo um sistema hídrico e deixando um país inteiro sem água. Em seguida, envia rãs que cobriram a terra, estragando alimentos e tornando as cidades imundas. Logo depois, destrói todo o sistema de agronegócio nacional, matando os animais egípcios.
Além de tudo, houve gafanhotos destruindo plantações, população ferida com pragas, chuva de granizo destruindo bens e propriedades privadas e, a mais violenta de todas, a morte dos primogênitos da população do Egito.
Não quero aqui dizer que Deus seja um ser violento, tampouco acredito que os movimentos sociais que usam táticas consideradas violentas o sejam também, mas o que desejo com esse texto é levar à uma revisão do nosso conceito de violência.
Uma vez que há um povo oprimido, que pouco pode fazer ao povo opressor — que o agride diariamente por leis, decretos, medidas políticas e leis injustas — não resta muito o que fazer a não ser o uso da força contrária.
Na história da sociedade, na luta de classes, dificilmente encontraremos libertações sociais que não vieram por meio de luta, por meio de revolta, por meio de manifestações violentas.
Quando a classe dominada usa força contra a classe dominante, não é violência, é legítima defesa.
O ideal seria que não não existisse violência de nenhum lado, mas, até esse dia chegar, seguiremos nos defendendo da real violência exercida pela classe dominante.
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