Devaneio autocrítico e desiludido sobre nascer artista

Julia Asenjo
Revista Subjetiva
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2 min readMar 8, 2021
créditos meus mesmo

Eu queria muito ter nascido com tesão em matemática. Ou em coisas estáticas, ciências quase inquestionáveis, sem discussão mesmo, só vai lá e tira essa vesícula porque tá dando merda. Imagina que lindo seria não morrer de nervoso só de pensar em abrir alguém, ou morrer de tédio só pensando em ler sobre as partes mais micro que vivem dentro de mim.

Mas eu nasci com tesão nas palavras e na arte. Foda isso. Uma vida de relacionamento abusivo com a literatura e artes plásticas, muita paixão envolvida e zero estabilidade. Ao mesmo tempo que eu sei no meu coração (ou cérebro, pra ser anatomicamente correta), que eu vim pra criar, eu também sei que ninguém quer ler essas minhas palavras cuspidas.

Quem lê hoje em dia? Ou melhor, quem lê coisas como as minhas? Talvez umas 20 pessoas. Isso não paga meu aluguel, não cobre nem minha compra de supermercado, acho que nem paga as pilhas do meu vibrador. Estou falando de custos básicos de sobrevivência, entendem?

Pintar é uma crise à parte. Afinal o mundo inteiro aparentemente pinta melhor do que eu. Quero ser ilustradora, sendo que existem aproximadamente 2 vagas disponíveis em São Paulo e 700 ilustradores interessados. Sendo 690 deles melhores do que eu. Não sei quem vai acabar comigo primeiro, a autocrítica ou a falta de talento, mas acabarei me, certamente.

E é até curioso que a ideia de ser médica me é tão discrepante que eu penso como eu seria, se médica fosse, com a cabeça não médica que eu tenho. Trago exemplos: eu médica teria dinheiro pra ter uma casa completamente linda, com um ateliê e pinturas em todas as paredes que eu mesma fiz… ops. Ou não, eu teria dinheiro pra fazer os cursos de arte que paquero há anos, aprender a esculpir gesso ou montar um estúdio de revelação fotográfica em casa… er.

Que angústia não conseguir nem sonhar direito com uma realidade muito distinta da minha. Horrível ser tão fundida com a minha paixão pela arte e escrita que nem no cenário mais livre da minha cabeça nós estamos separados. Talvez esse amor ainda me leve à loucura. Ou à falência primeiro, e depois, loucura. Independente da ordem, não são lugares bons pra ser levada, eu penso.

Mas se neles eu encontrar meus colegas artistas, talvez possa rolar uma festa bem da gostosa, no meio da loucura e da falência.

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Julia Asenjo
Revista Subjetiva

jornalista carioca que não sabe disfarçar. Me acho interessante por saber sofrer por amor.