Devs: Determinismo x Algoritmo

Série de Alex Garland questiona a crença humana na tecnologia onipotente para rever o passado e prever o futuro.

Bruno Garcia
Revista Subjetiva
3 min readNov 11, 2020

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Determinismo é “o princípio segundo o qual tudo no universo, até mesmo a vontade humana, está submetido a leis necessárias e imutáveis, de tal forma que o comportamento humano está totalmente predeterminado pela natureza, e o sentimento de liberdade não passa de uma ilusão subjetiva.

Assim, se eventos acontecem por estarem escritos e não por nossas escolhas, talvez se tivéssemos todas informações das leis do universo e a capacidade de processá-las extraindo suas decisões pudéssemos prever o que será o amanhã, o próximo segundo e até voltar no tempo para rever caminhos.

Essa é a premissa da série DEVS (FX/Hulu), um thriller tecno-existencial de Alex Garland (Ex_Machina; Aniquilação; Extermínio; A Praia) que idealizou, roteirizou e dirigiu. Ou seja, um selo de qualidade em ficção cientifica.

Localizada em San Francisco, a produção faz de Amaya uma Big Tech reconhecível comandada pelo cerebral Forest (Nick Offerman), que tem no projeto secreto DEVS sua obsessão. Reunindo os melhores programadores para desenvolver algo poderoso e indecifrável com computação quântica.

Sergei (Karl Gusman) é convidado para participar do time e desaparece, fazendo sua companheira de empresa e namorada Lily (Sonoya Mizuno) entrar numa trama de conspiração tecnológica e espionagem industrial envolvendo governo, russos, ex-namorado e questões religiosas.

Elenco de DEVS — Fox / Hulu 2020 (Foto por Miya Mizuno)

“As pessoas ficaram assustadas com as empresas tecnológicas. Muito assustadas.

A Inteligência Artifical criará 60% de desemprego.

O Instagram faz as pessoas se sentirem uns merdas.

O Twitter as fazem se sentirem insultadas.

O Facebook destruiu a democracia.

Eles usam você.” — (Fala de Senadora em DEVs)

Detalhar a minisérie estragaria a experiência de ver a brilhante união de sentimentos humanos e conceitos computacionais a partir do suspense que leva o espectador questionar ações extremas tomadas pelos personagens.

Como a da prodígia programadora Lyndon (Cailee Spaeny), representando a utopia que sua solução poderia ser aplicada a todos e encontrando a desilusão em Forest que idealizou DEVs em busca de fantasmas pessoais.

Nossas escolhas nos definem? E se não tivéssemos escolhas? Qual o poder de um algoritmo sugestivo? Quão bem os meus dados me representam?

Nesses “diálogos filosóficos” que podem soar pretensiosos é onde acredito estar a originalidade e relevância da obra ao fazer os personagens reproduzirem o que é discutido nos laboratórios; bares e redes sociais.

Eu acredito que Garland faz em oito episódios seu trabalho mais profundo e humano. Acertando ao colocar Big Data e Algoritmos Preditivos no centro da narrativa questionando o livre-arbítrio daqueles personagens que creem na tecnologia como solucionadora de suas angústias e erros humanos.

Um personagem questiona “O que é DEVS?”, a resposta é “DEVS é tudo.

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