A foto mostra dois livros sendo segurados por uma mesma mão. Em primeiro plano, único com capa e título de todo visíveis, a edição de "A Metamorfose" da Companhia da Letras, edição com tradução de Modesto Carone.

Doidices kafkianas em "A Metamorfose" | #LeiaComASubjetiva

Meu clássico de março para o desafio #LeiaComASubjetiva

Ligia Thomaz Vieira Leite
Revista Subjetiva
Published in
2 min readMar 26, 2019

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Quando meu namorado me perguntou, logo no início do mês, ainda no começo do livro, o que eu estava achando de Kafka, a única palavra que me veio à cabeça foi "doido". Ele, um projeto de litarato, aprovou meu parecer como sendo muito adequado e me deu um pouco mais de coragem pra seguir a leitura e publicar essa resenha depois. Só fui entender quando terminei que não precisava ter me sentido tão insegura e que o livro realmente é pra ser assim, "doido".

Acho que todo mundo em algum momento da vida já ouviu falar na história de Gregor Samsa, o caixeiro-viajante que, um belo dia, acorda transformado em um inseto mais que bizarro, assustando toda a família e tornando necessária uma reorganização de toda a dinâmica da casa. O que não te contam nas aulas de literatura é que Kafka escreve tudo isso de tal forma que a transformação de Gregor se torna pano de fundo, sem gerar grandes aflições no leitor, ao passo que sua percepção sobre a dinâmica da casa nos afeta absurdamente.

É focando nas mudanças que ocorrem na casa que o livro consegue tratar de dramas absurdamente humanos revolvendo em torno daquele inseto monstruoso. E, talvez por isso, durante boa parte da leitura, eu sempre me remetia à Hannah Arendt. Kafka faz com seu personagem principal, de forma literal, algo parecido com aquilo que ela coloca como a dominação total do sujeito, a negociabilidade da condição humana. Gregor, apesar de transformado em seu exterior em um inseto monstruoso, reiteradamente demonstra à família que mantém sua humanidade, que insiste em negá-la a todo o tempo.

É um livro incrível, rápido, certeiro, que certamente nos mostra o porquê de toda a fama de Kafka no meio literário. Mas, mais ainda, é um livro extremamente atual, importante para nos lembrar, nesses tempos sombrios que vivemos, que estamos sempre sujeitos a nos adaptar ao horror. Pra nos lembrar de não fazê-lo.

O livro pode ser comprado, na tradução de Modesto Carone, clicando aqui.

Pra ler ouvindo

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