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Dolorosa Esperança.

Sobre o que não virá.

Danilo H.
Revista Subjetiva
Published in
3 min readJan 21, 2021

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Terminei uma xícara de café enquanto esperava a minha comparsa retornar ao lugar reservado à minha frente.

O conluio já estava armado: eu escreveria a carta e ela se infiltraria no prédio.

Minutos mais tarde, vi pela janela quando a minha correligionária saiu pelo portão do condomínio e finalmente retornou à cafeteria.

— “Foi por pouco, agora é só espertar” — Disse ela, pedindo um cappuccino.

Ela abriu a porta do apartamento, mas não conseguiu dar um passo a frente. Seus olhos caíram pesadamente sobre um envelope bege jogado no chão.

O primeiro pensamento foi que alguém havia invadido sua casa, mas depois percebeu que a carta poderia muito bem ter sido colocado por debaixo da porta.

Fechou a porta, pegou a carta já rasgando as beiradas, sentou-se no sofá de pernas cruzas e começou a ler:

Vindo de alguém que não habita o interior da sua pele e que não enxerga através dos seus olhos, essas palavras soarão extremamente duras, contudo, sinto a necessidade de te avisar sobre uma catástrofe já em curso.

Passei horas pensando em como fazer as minhas palavras chegarem a você em um tom gentil ao invés de fazer você se sentir mal por tudo isso.

Eu sei que você ainda alimenta aquela esperança de tê-la de volta em sua vida, contudo, penso que você deveria repensar o motivo desse sentimento resistir depois de tanto tempo.

Às vezes a esperança se torna uma consequência da nossa dificuldade de aceitar que algo é impossível ou nocivo para nós mesmos.

Não estou dizendo que ter esperança ao longo da vida é ruim, o problema é quando nutrimos esperanças por alguém ou algo que intimamente nos faz mal.

Quando temos tudo que queremos, nós nos tornamos pessoas acostumadas com a disponibilidade dos outros e aí mora um perigo imenso… bem, não preciso te explicar aquilo que você já sente.

Lamento dizer, mas ela não voltará e aquela foi a última vez que provavelmente vocês se encontrarão com um mínimo de conexão.

Agora vocês são duas estranhas que já tiveram uma conexão confusa.

Eu bem sei que você aguarda ansiosamente pelo dia que ela responderá aquela mensagem que até o momento consta apenas com dois checks azuis e sem resposta alguma ou que, em algum momento, ela será atravessada por uma epifania violenta que a fará voltar atrás e correr ao seu encontro.

Esse doloro tipo de esperança nos faz acreditar que estamos fazendo algo bom quando, na verdade, estamos cavando um buraco dentro do coração.

Não serei imbecíl ao ponto de te pedir para combater um sentimento forte com a racionalidade, pois não é assim que a banda toca ( e nem como o coração bate), porém, quis te trazer um brilho de vagalume para a sua noite escura.

Ver o sofrimento alheio e não fazer nada é como ser aliado da dor… seria extraordinário se você tivesse esperança por si mesma.

Às vezes a esperança se encontra, ironicamente, no fim.

Aguardo pelo dia que você dará a si mesma o amor que costuma dar aos outros.

Amistosamente,
K.

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Danilo H.
Revista Subjetiva

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.