Entrevistamos Eduardo Spohr: escritor brasileiro de literatura fantástica

Revista Subjetiva
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5 min readMay 31, 2017
Foto reproduzida do site jovemnerd.com.br

Caros leitores e leitoras, é com grande prazer que apresentamos a entrevista que fizemos com Eduardo Spohr, autor da nova literatura brasileira e expoente do gênero de literatura fantástica, um dos grandes nomes responsáveis pelo boom literário do gênero nos últimos anos. A Batalha do Apocalipse e a trilogia Filhos do Éden são suas principais e mais reconhecidas obras atualmente, presente também no podcast do site Jovem Nerd, o Nerdcast, e no do seu próprio site, Filosofia Nerd, o mesmo está presente na comunidade como um todo.

1. Seus livros se tornaram best sellers para os apaixonados por literatura fantástica no Brasil, mas sabemos que sua trajetória não foi “explosiva” da noite pro dia, foi digna de muito esforço e apoio do grupo Jovem Nerd também, gostaria que você dissesse como você chegou a esse gênero (a literatura fantástica).

Eduardo: “Ingressei na literatura fantástica por meio do RPG (role-playing game, ou jogos de interpretação de papéis). Para criar minhas histórias, precisei ler livros de fantasia como “O Senhor dos Anéis” e a série “Crônicas de Dragonlance”. Os jogos de terror e suspense me levaram a obras clássicas como “Drácula”. Conheci nessa mesma época a coleção do Sherlock Holmes, os contos do H.P. Lovecraft e o trabalho de Robert E. Howard.”

2) Publicar um livro atualmente é algo muito difícil, não apenas pela questão financeira, mas também porque existem mais livros do que as pessoas costumam ler no mercado, então as editoras costumam fazer um filtro para saber “quem vende e quem não vende”, gostaria que você nos contasse um pouco de como foi o processe de publicação dos seus livros e quais dicas você daria para quem quer publicar um livro hoje em dia.

Eduardo: “Terminei de escrever “A Batalha do Apocalipse” em março de 2005 e decidi enviar o original para as editoras. Para causar uma boa impressão, rodei 30 exemplares em formato de livro mesmo (com capa e miolo) em uma gráfica que imprimia pequenas tiragens: a Fábrica de Livros do Senai, no Rio. Na época, a Fábrica estava com um concurso: era preciso deixar três exemplares para avaliação e o vencedor ganharia 100 livros produzidos por eles. Eu tinha pouco dinheiro e não poderia dispensar três livros dos 30 que tinha pagado, mas mesmo assim resolvi arriscar e acabei premiado. Esses primeiros 100 livros (adquiridos a custo zero) foram comercializados em 2007 pela NerdStore, a recém-inaugurada loja virtual do site Jovem Nerd. As cópias venderam todas muito rapidamente, e usamos o dinheiro para produzir mais 500 livros, que também foram vendidos em menos de 2 meses.

A jornada não acabou por aí. Tendo vendido, em setembro de 2007, 600 cópias pela internet, eu achava que tinha um grande case (rsrsrsrs), e tentei vender a ideia para as editoras, mas nenhuma se interessou, nem as pequenas. Foi só em 2009, quando fizemos uma segunda tiragem de “A Batalha do Apocalipse” pela NerdStore (agora produzindo 4.000 cópias), que a repercussão nas redes sociais chamou a atenção da editora Verus, que recentemente fora comprada pelo Grupo Editorial Record. Tive uma reunião com a Raissa Castro, que até hoje é minha editora, e assinamos o contrato. Em 2010, enfim, “A Batalha do Apocalipse” foi lançada pelo Grupo Editorial Record e distribuída nas livrarias de todo o Brasil.

No meu blog, o Filosofia Nerd, fiz um post onde reúno uma série de opiniões de escritores, nacionais e internacionais, inclusive os meus próprios conselhos sobre o assunto (se é que eu posso dar algum). Mas, de qualquer maneira, acho que a primeira dica (que todos podem concordar) é escrever sempre, nem que seja um pouquinho a cada dia. Separe uma horinha para se dedicar aos seus textos. Só treinando a gente aprimora o nosso trabalho. Com o livro pronto e escrito, é preciso fazer com que ele seja conhecido e lido. Além da tradicional busca por editoras, hoje temos muitos caminhos para a publicação, desde a produção independente até as ferramentas eletrônicas.”

3) Atualmente, a cultura nerd se popularizou e existem várias vertentes que se consideram nerds também como, por exemplo, geeks e gamers. Para você, o que é ser nerd?

Eduardo: “Costumamos sempre ver pela lado bom, o nerd como um sujeito interessado, que quer conhecer um assunto (ou vários) a fundo. Por muitos anos, por exemplo, eu fui nerd de Star Wars: sabia todos os nomes — das naves, dos personagens, etc.”

4) Atualmente, com o avanço das redes sociais, as mesmas estão sendo utilizadas pelos autores para alcançar um maior público que antes da Era da Internet era mais difícil alcançar, para você, um autor, hoje, precisa ser multimídia?

Eduardo: “Não necessariamente. Precisa, sim, ter um bom livro, um bom material para mostrar. Tudo tem que partir disso. Se o autor não tiver um bom trabalho, ele pode ter todas as ferramentas de divulgação na mão que elas não vão adiantar de nada.”

5) Existe um grupo que ainda possui um “pé atrás” com os autores da nova literatura, principalmente nacional, sendo você um desses autores, que vem conquistando um público grande dos anos 2000 pra cá, gostaria que você nos dissesse um pouco sobre como vê essa nova literatura e como você enxerga o público leitor atual, atuando dos dois lados: como autor e leitor.

Eduardo: “O mercado hoje está melhor do que nunca para os novos autores. O curioso é que a internet, em vez de afastar as pessoas dos livros, acabaram por aproximá-las do hábito da leitura. Blogs literários, redes sociais especializadas (como o Skoob) e mesmo as comunidades sobre livros nas redes sociais comuns estão reunindo pessoas e divulgando obras. E eu espero que o interesse pela literatura cresça cada vez mais.”

6. Deixe suas considerações finais para aqueles que são apaixonados por literatura fantástica e desejam viver sendo escritores ou escritoras.

Eduardo: “Eu diria, antes de tudo, que ser escritor hoje no Brasil é tão difícil quanto qualquer outra profissão. Não é fácil ser professor no Brasil, engenheiro, advogado, ator, policial, etc, etc, etc. Para se conseguir sucesso em qualquer área é preciso ralar muito, e no caso do escritor não é diferente. Eu acho curioso que as pessoas ficam frustradas porque estão no mercado há dois, três anos e não conseguiram emplacar suas obras. Um médico, por exemplo, precisa cursar ao menos 4 anos de faculdade e 2 de residência, para só então começar a trabalhar. Escrever é uma profissão séria que, como todas as outras, requer tempo, investimento e muita dedicação.”

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