Essa minha gramática
Padeço de sérios problemas gramaticais — românticos também, mas não é este o causo de agora — que estão me roubando o juízo.
Toda vez que releio um texto antigo, só consigo imaginar o olhar constrangido de mainha e das minhas irmãs — todas professoras de português — lendo a obra já publicada em qualquer lugar.
Amigos, santo de casa não faz milagre e eis aqui a prova viva disso. Canso de retornar a textos antigos e descobrir que na pressa, no calor do momento ou por mero desleixo coloquei uma vírgula onde não devia, deixei de colocar onde devia e onde era ponto coloquei qualquer outra coisa.
Vocês não imaginam o quão sofro ao ver minhas ideias serem sufocadas por uma coisa tão básica chamada gramática. Assim como Lima Barreto, sofro com minha caligrafia e ainda tenho um plus por problemas gramaticais simples.
A minha caligrafia e gramática são como um “[…]bilhete de loteria. Às vezes ela me dá muito, outras vezes tira-me os últimos tostões da minha inteligência.”
Como colete salva-vidas, gosto de falar que padeço do mesmo mal que meus escritores de cabeceira. Gabo, por exemplo, confessa em sua autobiografia “Viver para contar”, que seus revisores sofrem com os seus erros de ortografia e gramatica, uma pena não poder dizer o mesmo de Saramago e tantos outros que me inspiram.
Gozado é por vezes ser solicitado para corrigir os erros dos outros, dar uma olhada em textos alheios, palpite sobre alguma coisa, quando nem os meus sei ao certo como resolver.
Às vezes me pego pensando na mesma linha de Lima Barreto… e se eu cassasse com uma revisora? “Seria […] uma solução para esse meu problema[…]”, mas assim como o grande escritor — que tem um quadro enorme na minha sala — tenho que me aguentar e lidar com esses meus dois inimigos, lidar com “[…] esse abutre que me devora diariamente a fraca reputação e apoucada inteligência.”
Por vias das dúvidas, sempre que posso acendo uma vela para todos os bravos revisores que são verdadeiros salva-vidas de escritores que assim como este que aqui vos fala, só escrevem e por vezes — muitas — ferem de morte a norma culta.
E aos meus leitores, fica mais uma vez um enorme pedido de desculpas.
