Eu necessito falar sobre minha ansiedade

Luíza Motta
Revista Subjetiva
Published in
6 min readSep 26, 2017
Foto: A minha mente é maravilhosa

É, não é uma tarefa nada fácil para mim. Mas como minha terapeuta mesma já falou, eu preciso disso, já que para mim é a melhor forma de externalizar meus sentimentos, meus pensamentos e minha angústia.

Não, não é uma besteira, muito menos estou me fazendo de dramática. Inclusive, um dos motivos de eu não falar muito sobre minha ansiedade é porque as pessoas que não entendem o que eu passo, acham que a uso como desculpa por não conseguir controlar meus pensamentos ou por eu deixar de fazer as coisas. Ou até mesmo por não controlar meu choro e me achar a pior pessoa do mundo. E é isso que a minha ansiedade faz. Me destrói, me sabota.

A minha ansiedade faz com que pensamentos horríveis sejam recorrentes. Faz com que eu me ache inútil, fraca e totalmente desinteressante. Me faz pensar que não sou ninguém, que meu potencial não existe, me faz querer desistir de tudo. E ao mesmo tempo, fazer tudo.

Quando eu começo a chorar sem motivo aparente, ou simplesmente porque eu queria estar em um lugar tanto quanto queria estar em outro, não é palhaçada e nem drama. Quando eu começo a falar que não estou bem, quando eu deveria estar, não é por bobagem. Pelo contrário, eu sei muito bem que eu não deveria sentir tamanha tristeza quando a minha vida está tão incrível, mas isso não é algo que eu saiba controlar. Quem sabe um dia eu aprenda a pelo menos lidar com essa situação…

A minha ansiedade me deixa fraca, sem vontade de voltar do meu horário de almoço, sem vontade de ir estudar e realizar meu grande objetivo de vida. Me faz não procurar meus melhores amigos, porque penso que estou incomodando. Aliás, me sentir um incômodo na vida das pessoas é algo presente diariamente, e isso não é algo que eu queira sentir.

A ansiedade me faz pensar em mil coisas que podem acontecer a partir de algo que eu faça ou fale. Consigo visualizar cada uma delas, e isso é assustador. Não é porque eu “vivo à frente do meu tempo”, como dizem sobre Aquarianos — talvez não só isso — mas porque tem um monstro dentro de mim corroendo cada sentimento bom que eu possa sentir. Geralmente as imagens que são mais claras, são as piores. E a culpa não é minha.

Eu me sinto doente, eu me chamo de doente o tempo inteiro para mim mesma. Repito o tempo inteiro na minha cabeça: “Você é doente! Você precisa se tratar! Essa sua terapia não é o bastante, procura um remédio, ou simplesmente some mesmo, não é melhor? Que diferença faz?”. Ah, e isso também é — ou pode ser — um resquício da minha querida — maldita — depressão, que se fez presente ao meu lado durante anos. E sabe lá se ela ainda está aqui. Ou seja, além dessa maldição de Ansiedade, temos a amiga monstruosa Depressão para melhorar as coisas aqui dentro.

Eu tenho um potencial de aumentar cada coisinha que me acontece. E eu estou consciente disso, e mesmo assim não consigo botar as coisas no lugar. Não é algo que eu faça de propósito, e eu nem sei o porquê de isso acontecer direito. Mas quando eu tô ali, enxergando uma barata onde é uma formiga no açúcar, é muito complicado transformar essa barata pro tamanho real de formiga.

Eu sei que eu sinto coisas que não existem. E isso me deixa indignada, POR QUE DIABOS EU TÔ SENTINDO ISSO SE EU SEI QUE TÁ TUDO DENTRO DA MINHA CABEÇA? Isso também se transforma em algo assustador. Sei que imagino as coisas, e pior de tudo, eu sei que a maioria das pessoas que me cercam não compreendem o que se passa. E eu sei que eu preciso de mais ajuda, mais do que já tenho, mas quando você se sente tão solitária, é extremamente difícil procurar essa ajuda. Mesmo que seja uma ajuda interna minha, é muito difícil ter o pontapé para buscar dentro de mim.

A minha ansiedade me faz querer não sair de casa quando está um dia ensolarado mas frio, que é meu tempo favorito. Me faz não querer andar na orla da praia nem ver a lua, que sempre foram coisas que eu amo fazer. A ansiedade me faz simplesmente não sentir nada ao mesmo tempo em que sinto tudo. E isso é tão agoniante, é como se eu tivesse levando socos fortes em meu peito e em meu estômago. É como se eu carregasse uma mochila com toda a roupa do meu armário, e eu não conseguisse manter a postura.

E tudo que eu queria era que as pessoas compreendessem. Não julgassem. Não falassem que é ridículo eu aumentar cada ponto da minha vida, porque cada vez que escuto isso, é um tiro. Eu sei disso, você não precisa jogar na minha cara, e não é uma coisa que eu esteja controlando. Acredite, eu preferiria que eu não tivesse essa sombra de cinco metros atrás de mim, me abraçando mesmo quando eu mando ficar longe.

Eu me culpo. Eu me culpo por sentir coisas horríveis quando as coisas estão boas. Eu me culpo pela tristeza quando eu sei que tem gente que daria um braço para estar no meu lugar. Eu me culpo por estar infeliz quando tudo me diz para ficar extremamente contente. Eu me culpo por não controlar esse monstro que eu criei. Eu me culpo por ter criado isso. Eu me culpo por ser uma pessoa ansiosa.

A ansiedade também me faz pedir desculpa por cada coisa que eu fale que possa não agradar alguém. Peço desculpas por cada detalhe, por coisas bobas, até quando eu não tenho que pedir desculpa. Eu peço desculpas pela minha ansiedade. Peço até desculpa por respirar de vez em quando.

E ser ansiosa não é só esperar para algum evento. Na verdade, você espera um monte de evento que nunca vai acontecer, porque está tudo dentro da sua cabeça. Você espera até que você caia do meio fio na rua e um carro te atropele, e isso é enlouquecedor. Eu ando na rua imaginando mil e uma situações péssimas que poderiam me acontecer. A ansiedade que eu sinto não é a mesma ansiedade de quem tá nervoso por uma prova. Não tem sido nada passageiro, como as pessoas costumam acreditar. É uma ansiedade por cada detalhe, por cada segundo, não só esperando passar algum momento.

Desabafar um pouco sobre o que sinto, já me ajuda sim. Mas eu continuarei sentindo cada coisa dessa lista. Eu só queria me sentir compreendida e não achar que estou sendo julgada 100% do meu tempo. Na verdade, eu só queria não passar mais por isso. Deve ser esse meu verdadeiro sonho: não ter ansiedade. Não conviver com monstros interiores, com um mar escuro que me afoga, com sentimentos que me enforcam. Não chorar mais sem motivo, não me assustar mais com qualquer detalhe bobo da vida. Não me sentir isolada, sem ninguém, mesmo sabendo que eu tenho quem esteja ao meu lado. Eu queria mesmo é que quem não passa por isso, entendesse um pouco do que é isso. E queria mais ainda que ninguém precisasse passar por isso. Que transtorno…

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Luíza Motta
Revista Subjetiva

Romântica em tempo integral e (quase) psicóloga. ❤