https://www.languagemagazine.com/ | #paratodosverem: imagem com fundo amarelo composta por dois balões de diálogo, sendo o da esquerda um balão com linhas rabiscadas que possui um fio que, ao chegar ao lado direito, é organizado em formato de circulo representando um diálogo confuso e um diálogo conciso.

Eu Não Sou Um Intérprete

Sobre uma regra que se tornou exceção.

Danilo H.
Published in
3 min readFeb 3, 2022

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Pelas minhas contas, haviam cinco dicionários na sua mesa, dois tradutores online abertos no computador e imensas listas redigidas a mão sobre palavras e suas traduções diretas para outras línguas.

Eu te trouxe café, perguntei como foi o seu dia e você me disse que estava muito ocupado.

Eis que você fechou os olhos, respirou fundo, tomou o café e finalmente me disse a verdade: não estava nada bem.

Você disse que tinha se perdido entre as traduções e eu soube exatamente ao que você se referia.

Você tentou tanto interpretar o significado do que te diziam que você, simplesmente, se perdeu.

https://www.inc.com/ | #paratodosverem: ilustração de duas silhuetas escuras de dois rostos olhando para lados opostos, o da esquerda possui um fundo verde e o da direita possui um fundo vermelho. Ambos possuem balões de diálogos em branco.

Neste processo repleto de altos e baixos que rotulamos de “sermos a nossa melhor versão”, nos deparamos com a clássica dificuldade de compreender os outros e também sermos compreendidos.

Todos nós, sem exceção, queremos ser compreendidos.

Contudo, pessoas confusas acabam por criar contextos e situações confusas para si mesmos e para os demais ao seu redor.

Nem sempre é de propósito, afinal, existem pessoas que realmente não percebem o quão imprecisas e desordenadas elas são, mesmo isto sendo uma dever individual.

Em uma relação, seja ela qual for, a responsabilidade não deve ser unilateral e foi por isso que eu resolvi te visitar.

A frase “Eu sou responsável pelo que digo não pelo que você entende” não é uma carta branca.

Há um limite quase imperceptível, mas ele existe.

Somos responsáveis pelo que dizemos e cabe a nós partilharmos as nossas palavras da forma mais clara possível.

De fato, não podemos controlar o que o próximo compreende, entretanto, podemos abrir espaço para um diálogo mais saudável.

Se você só diz o que quer e não tem cuidado com o próximo, então a sua “responsabilidade afetiva” desceu pelo ralo junto com sua “bondade”.

Alguém sempre lhe causará dúvidas: seja pelo vácuo, pelas meias palavras, pela ausência de sentido ou por puro desinteresse. Por vezes é possível compreender o motivo do ruído e, em outros momentos, existem mais lacunas do que o normal.

Não preencha lacunas.
Não busque respostas para o que não foi dito.
Não interprete o caos, a bagunça e a confusão.

E se a sua comunicação for repleta de vãos, hiatos, pequenos mistérios sem pé nem cabeça ou dotada de uma natural inconsistência proposital, então a frase clichê “Eu sou responsável pelo que digo não pelo que você entende” não lhe cabe, pois sua responsabilidade evaporou.

Interpretar o próximo deveria ser uma exceção e não uma regra.

https://www.inc.com/ | #paratodosverem: ilustração no estilo “pop art”. O fundo é azul com bolinhas brancas e na imagem há um close de duas mulheres. A da direta está com a boca aberta e da esquerda está com o olhar atento, escutando.

Ás vezes as palavras se perdem.
O famoso “deu branco”.
Temos medo de dizer algo e se comprometer.
Medo do “depois”. Ansiedade.
As palavras são vento, mas constroem caminhos e universos possíveis.

Tudo bem falhar na comunicação com alguém, mas coloque as cartas na mesa e não as esconda na manga.

Há pessoas que vão precisar de mais paciência, sem dúvidas… porém, elas devem ser exceções.

Talvez nós sejamos a tal pessoa mais complicada na vida de alguém também e por isso é importante trabalhar a concisão das nossas ideias, afinal, elas brotam de dentro para fora.

Guarde seus dicionários multilíngues, seus tradutores online e abra mais espaço para que você compreenda e seja compreendido.

Se trata de uma troca.
Troque conteúdos e ideias ao invés de aprisioná-los.

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Danilo H.
Revista Subjetiva

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.