Fenomenologia do acaso

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Revista Subjetiva
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2 min readJul 6, 2021

Este texto foi escrito ao som de The Blower’s Daughter — Damien Rice

Fonte: Aykut Aydoğdu

Eu acho que faz parte. Não que não fizesse… porque acredito mesmo que todos sabem muito bem sobre seus nortes próprios.

Claramente não passou de mais um devaneio. Meus pensamentos voltaram para a realidade em um piscar breve quando ela retornou do banheiro, terminando de enxugar a mão no jeans, sutilmente, antes de sentar à mesa. Falava em tom rápido e detalhamento sobre o banheiro da cafeteria que estávamos.

E, eu, apenas queria sair dali. Já sabia o discurso, o percurso e os números da conta final daquela tarde. A semana não tinha sido das melhores, de brinde uma briga familiar, não obstante minha namorada não enxerga que o nosso relacionamento acabou. Eu a olhei. Cachos queimados, astigmatismo, 1,65 e um tanto de falsa afirmação. Uma covinha localizada na bochecha esquerda, junto a uma cicatriz de infância e seus 7 aquários no mapa. Estudante de psicologia tem disso.

Eu sempre quis namorar uma estudante de psicologia para citar aquele trecho de Juliete nunca mais do Gabito que falava que ela gostava de Phil Collins, fazia psicologia pelo mesmo motivo que leva 99% das estudantes da área a ingressar na tal ciência: queria antes se entender. Nunca consegui concretizar o sentido, desconfio que nem ela, porém namorei a tal.

Saímos dali e um silêncio absoluto no percurso café — carro — apartamento.

— Acho que a gente se perdeu — ela soltou, depois de 37 minutos de completo silêncio e raiva no trânsito.

Foram 37 minutos exatos de silêncio ininterruptos e finalmente o gelo quebrado. Se você parar para analisar o processo do fim de um relacionamento é algo simples e muito primário. Ciclos findam-se, folhas caem e namoros acabam. Os humanos que complicam e aplicam conceitos em lugares que não o cabem.

Pisco de novo e volto para o presente. Mais uma noite de sono inquieto. Sinto falta da época que eu não reclamava de insônias. 3:07 a.m e me veio aquela cena de Closer, em que a Natalie vem andando no meio das pessoas e olha, fixamente, para a tela. Você não sabe o motivo, achismos, deduções ou concretização daquilo — mas — você entra junto. Você sofre junto.

Não sei se pelo jeito singular, expressivo e… expansivo ou pelo fato dos meus vizinhos estarem escutando The Blower’s Daughter a esta hora da madrugada. A dita veio. Quatro paredes brancas, uma janela entreaberta, dois armários de memória. E, por mais que já tenha passado uma pá de tempo… os meus olhos ainda não conseguem sair dela.

Nota mental: pedir para aumentar a dose do ansiolítico na próxima consulta.

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"te conhecendo parece uma viagem aleatória dentro da tua cabeça"