Finalizando ciclos e por que términos não são perdas

Lara Pirro
Revista Subjetiva
Published in
4 min readJan 1, 2019
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A partir do momento que enxergamos a vida como um organismo cíclico, enxergamos também que dentro dela existem diversos “mini-ciclos” que, incansavelmente, vamos abrindo e fechando. Não como obrigação ou com pesar, mas como instinto do ser humano, explorar os ciclos possíveis da vida e o seu ciclo individual de amadurecimento espiritual e intelectual.

Um exemplo sólido de um “mini-ciclo” é um curso de inglês. Você se matricula, inicia às aulas, realiza as provas e no final, aprendeu tudo que tinha que aprender naquele lugar e segue para outro. Outro exemplo de “mini-ciclo” são os relacionamentos, numa perspectiva geral, dos amorosos aos que são fruto do cotidiano.

“A person is a fluid process, not a fixed and static entity; a flowing river of change, not a block of solid material; a continually changing constellation of potentialities, not a fixed quantity of traits.” – Carl Rogers, On Becoming a Person

TRADUÇÃO:

“ Uma pessoa é um processo fluido, não uma entidade fixa e estática; um rio fluido de mudança, não um bloco de material sólido; uma constelação continuamente mudando de potencialidades, não uma quantidade fixa de traços.” – Carl Rogers, em Se Tornar Uma Pessoa

As pessoas que estão ao teu lado, nesse exato momento, têm muito a ensinar e você tem muito a ensina-las. Não importa se esse aprendizado levar anos, ou meses, importa é reconhecer 3 aspectos importantes da convivência; (1) quando começa a função, (2) a função e (3) quando acaba a função.

A função não necessariamente objetifica o indivíduo, mas da um sentido para ele naquele sistema que está inserido. A função é voltada para quais, dos incontáveis, ensinamentos aquela pessoa tem me passado e ainda está me passando.

Importante apontar que não devemos limitar as possibilidades da função. Alguém pode me ensinar sobre amor a dois, como também pode me ensinar sobre amor próprio. Alguém pode me ensinar sobre jardinagem, ou ciências políticas, ou sobre tolerância.

Podemos identificar, também, um ciclo como ligado a função dos integrantes desse específico ciclo. Um exemplo: você tem uma melhor amiga, mas você sente que mudou alguns conceitos internos e que não obtém dela os conselhos que gostaria ou a compreensão que espera. O afeto continua igual, mas as semelhanças não! Ou seja, a função dela em tua vida mudou, mas isso não quer dizer que amanhã ela não possa te ensinar a tocar piano, talvez.

São dois ciclos, o que ela te compreendia e mantinha sintonia, e o que ela é somente sua professora de piano, mas nada anula o afeto ou a consideração por tudo que foi vivido.

Quando compreendemos isso, deixamos de esperar do outro que ele realize uma função que já não é mais dele, ambos mudam e ambos estão mudando.

Reconhecer. que você pode fazer/ensinar/aprender tudo que você quiser, é também aceitar o mesmo para o outro. Ou seja, reconhecer que suas possibilidades é também as possibilidades dos outros – compreender isso não é o mesmo que respeitar, mas é o caminho para tal.

Recentemente um conhecido terminou um namoro e ele descreveu seu sentimento como uma perda. Aquilo envolveu meu pensando e me despertou a necessidade de apontar o motivo de não ser uma perda e de por que achamos que é.

A minha amizade com ele é um exemplo de ciclo. Eu só o conheci por causa da faculdade, mas isso não teria acontecido se não tivéssemos terminando o colégio ou o curso anterior para termos a oportunidade de começarmos juntos esse novo curso.

O fato de que você finalizou um ciclo significa que você aprendeu o que tinha de aprender no ciclo anterior e agora tá pronto para aprender algo completamente novo. Pense que não sofremos influências que nos tendenciam a monogamia e nem muito menos ao apego material, desse modo entendemos os términos de ciclos como recomeços. Todo término seria prenúncio de uma infinidade de possibilidades que iriam se abrir bem na nossa frente.

Essa perspectiva não anula de modo algum o sentimento de saudade, ou a tristeza de senti-lo por alguém que não temos por perto, mas ela mostra outro modo de sentir a saudade. Sentindo as lembranças das realizações vividas e não almejando as possíveis realizações com a mesma pessoa se não tivesse terminado o ciclo.

Capitalismo Parasitário – Zygmunt Bauman

Temos o direito de nos entristecermos por não estarmos vivendo os melhores momentos no agora. Mas também temos o direito de nos alegrarmos com as possibilidades futuras.

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