Fingi que era verão.
Jack Johnson e água fria.
Agosto. No sul, o auge do inverno.
Home office, sem maquiagem, meu pijama já virou roupa de trabalhar. Pra completar o look, coloco um moletom por cima. Às vezes, mais um par de meias. E nos dias de mais preguiça, visto um cobertor com mangas pra parecer que a cama não saiu de mim. Acordo 5 minutos antes do trabalho, só pra dar tempo de pegar um café e ligar o notebook.
Essa falta da minha rotina — que me enfiaram goela abaixo como nova rotina — me estressa.
Fora toda a energia ruim de tragédia que toma conta do mundo e faz com que ninguém esteja com a cabeça boa o suficiente para se manter sempre positivo.
Em uma terça-feira dessas, eu cheguei no ápice do estresse.
Sabe quando, sem um estopim, você fica com muita raiva, chora e quer quebrar tudo? Se alguém me perguntasse o que houve, não saberia responder.
Decidi que, sozinha, precisava mudar o meu humor.
Parei o trabalho no meio do dia — foi necessário.
Tirei a roupa e liguei o chuveiro.
Mas antes, mudei a estação. Fiz virar verão em Agosto.
Para agilizar a imersão, coloquei minha playlist do Jack Johnson. Quem me conhece sabe que ela é só pra ocasiões especiais.
Tomar banho gelado no inverno ao som de My Mind Is For Sale é uma experiência que todos deveriam viver uma vez na vida.
Eu passei frio no banho, mas isso era óbvio.
Até o frio é diferente quando ele é uma escolha — eu passei frio porque eu quis mudar pro verão.
Acho que é isso que está pegando mais no dia a dia: a falta de poder fazer escolhas.
Sequei o cabelo com calma enquanto ouvia Sunsets For Somebody Else. Tá aí outra experiência boa.
Decidi então fazer mais uma escolha diferente no meu dia. Coloquei chinelos, shorts e uma camiseta que só uso nos meus amados dezembros em Santa Catarina.
Abri a janela, senti frio, troquei o café de sempre por um chá gelado e voltei ao trabalho às 15h. Nesse momento, ao som de Traffic In The Sky. E aí foi a playlist toda.
Senti como se estivesse trabalhando no fim do ano, na contagem regressiva pra aproveitar a temporada do verão. Eu adoro essa época.
A pauta nunca foi tão leve quanto aquela tarde.
Fui dormir tão motivada que coloquei o despertador do dia seguinte para 1h antes do início do trabalho.
No verão eu gosto de acordar cedo e aproveitar os dias inteiros.
Mas quando tocou, ainda era inverno.
E ninguém escolhe sair de cama com 8°C.