Fingi que era verão.

Jack Johnson e água fria.

Vitória Castilho Cohene
Revista Subjetiva
2 min readAug 20, 2020

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Photo by Chandler Cruttenden on Unsplash

Agosto. No sul, o auge do inverno.
Home office, sem maquiagem, meu pijama já virou roupa de trabalhar. Pra completar o look, coloco um moletom por cima. Às vezes, mais um par de meias. E nos dias de mais preguiça, visto um cobertor com mangas pra parecer que a cama não saiu de mim. Acordo 5 minutos antes do trabalho, só pra dar tempo de pegar um café e ligar o notebook.

Essa falta da minha rotina — que me enfiaram goela abaixo como nova rotina — me estressa.

Fora toda a energia ruim de tragédia que toma conta do mundo e faz com que ninguém esteja com a cabeça boa o suficiente para se manter sempre positivo.

Em uma terça-feira dessas, eu cheguei no ápice do estresse.

Sabe quando, sem um estopim, você fica com muita raiva, chora e quer quebrar tudo? Se alguém me perguntasse o que houve, não saberia responder.

Decidi que, sozinha, precisava mudar o meu humor.
Parei o trabalho no meio do dia — foi necessário.
Tirei a roupa e liguei o chuveiro.
Mas antes, mudei a estação. Fiz virar verão em Agosto.

Para agilizar a imersão, coloquei minha playlist do Jack Johnson. Quem me conhece sabe que ela é só pra ocasiões especiais.

Tomar banho gelado no inverno ao som de My Mind Is For Sale é uma experiência que todos deveriam viver uma vez na vida.

Eu passei frio no banho, mas isso era óbvio.
Até o frio é diferente quando ele é uma escolha — eu passei frio porque eu quis mudar pro verão.

Acho que é isso que está pegando mais no dia a dia: a falta de poder fazer escolhas.

Sequei o cabelo com calma enquanto ouvia Sunsets For Somebody Else. Tá aí outra experiência boa.

Decidi então fazer mais uma escolha diferente no meu dia. Coloquei chinelos, shorts e uma camiseta que só uso nos meus amados dezembros em Santa Catarina.

Abri a janela, senti frio, troquei o café de sempre por um chá gelado e voltei ao trabalho às 15h. Nesse momento, ao som de Traffic In The Sky. E aí foi a playlist toda.

Senti como se estivesse trabalhando no fim do ano, na contagem regressiva pra aproveitar a temporada do verão. Eu adoro essa época.

A pauta nunca foi tão leve quanto aquela tarde.

Fui dormir tão motivada que coloquei o despertador do dia seguinte para 1h antes do início do trabalho.
No verão eu gosto de acordar cedo e aproveitar os dias inteiros.

Mas quando tocou, ainda era inverno.
E ninguém escolhe sair de cama com 8°C.

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Vitória Castilho Cohene
Revista Subjetiva

Tinha tantas certezas, mas agora só tem a de que escrever alivia.