“Fique comigo” e a dor de uma mulher nigeriana

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Thaís Campolina
Revista Subjetiva
3 min readJun 30, 2020

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Chinua Achebe é considerado um dos maiores nomes da literatura do século XX. Sua trajetória como romancista, poeta, crítico literário e intelectual o tornou conhecido no mundo inteiro, inclusive por sua atuação como mediador de conflitos políticos de sua região. Seu trabalho como escritor, além de inspiração, acabou fazendo o mercado literário tão europeizado e estadunidense se abrir um pouco para a literatura produzida na Nigéria.

Quase 85 anos depois do nascimento de Chinua e 28 anos depois de Wole Soyinka ganhar Nobel de Literatura em 1986, Chimamanda Ngozi Adichie ganhou o mundo após ter um trecho de uma de suas palestras citado numa música da Beyoncé. Com a Nigéria de novo sendo observada como um ótimo berço literário, escritoras como Buchi Emecheta, Sefi Atta e Ayòbámi Adébáyò também conseguiram um espaço internacional sendo publicadas em vários outros países. Dentre as várias obras recentes que tornaram a Nigéria conhecida entre os fãs brasileiros de literatura, “Fique Comigo”, da nigeriana Ayòbámi Adébáyò, é um destaque.

Nesse romance, o leitor acompanha Yejide em sua jornada para se tornar mãe e todas as questões familiares, pessoais e culturais que afetam suas decisões, sentimentos e reflexões a respeito. A narração do livro é dividida entre ela, a protagonista, e Akin, seu marido, ambos contando a história do casamento deles, a partir de suas impressões, segredos, arrependimentos, sofrimentos e enganos.

Além dos assuntos da vida privada, a obra também aborda de maneira tangencial acontecimentos políticos e sociais que envolveram a Nigéria durante a década de 80 e, inclusive, cita Chinua Achebe, mostrando a importância dele para a sociedade nigeriana. Além disso, muito do contexto político e social narrado por Ayòbámi se relaciona com o livro “Hibisco Roxo” da Chimamanda e essa conexão torna ambas as leituras ainda mais ricas.

“Fique comigo” explora o quanto as pressões sociais relacionadas ao machismo são capazes de destruir mulheres, homens e relações, especialmente quando a família é colocada como algo central por todos, apesar de ser uma instituição que se importa mais com a maneira que seus membros são vistos pela sociedade do que em cuidar e acolher os seus. Os papéis de gênero tão reforçados pelas famílias de Yejide e Akin machucam todos, especialmente Yejide, que, marcada pela solidão, tende a aceitar tudo com medo de perder o pouco que conseguiu.

Doloroso, aflitivo e envolvente, esse romance explora temas como maternidade, casamento, poligamia, masculinidade, luto, solidão e machismo. Ler a história de Yejide e Akin é se permitir viver uma imensa gama de emoções, sendo a raiva talvez uma das predominantes, porque a obra expõe uma faceta da cultura nigeriana que é muito cruel com as mulheres.

Se você é um leitor ávido por histórias emocionantes e bem escritas, tem curiosidade sobre a literatura produzida fora do eixo EUA-Europa e se interessa em refletir sobre a condição da mulher no mundo, esse livro é uma ótima opção de leitura para você.

Tradução do livro: Marina Vargas

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Thaís Campolina
Revista Subjetiva

leitora, escritora e curiosa. autora de “eu investigo qualquer coisa sem registro” e “Maria Eduarda não precisa de uma tábua ouija” https://thaisescreve.com