Florescer neste lugar

Julia Hor-Meyll
Revista Subjetiva
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2 min readJun 20, 2021
Divulgação

Quando você tem uma mente conturbada como a minha, torna-se um hábito — ou, ainda, uma tática de sobrevivência — recolher-se a cada tanto para tentar extrair algum sentido dos pensamentos afiados e sensações turbulentas, e, com sorte, dar-lhes um nome para que outras pessoas possam identificá-los, sem que toda essa intensidade os transforme em um idioma que lhes seja inteiramente estrangeiro.

Encontrar as palavras corretas ou uma lógica objetiva, compreensível àqueles que não vivem no olho do furacão, não é tarefa fácil. Há dias em que me descubro decidida, ou, ainda, resignada, a me retrair aos meus pensamentos em silêncio quase fúnebre. Sou tomada então pelo medo terrível de que um dia esta minha bagunça sequer possa ser traduzida em palavras. Todas essas emoções, todo esse pensamento acelerado, transitariam livres e descontrolados a toda velocidade, acelerando ansiosa e inadvertidamente este coração como uma perigosa montanha-russa de alegria e frustração, de mania e tristeza, de explosiva raiva e pura apatia. Durmo e acordo com o temor de que também as minhas próprias palavras, em meu complicado idioma particular, se esvaiam de uma vez, me deixando a sós com um vazio sem fim.

Talvez eu tenha investido demasiado energia e preocupação fantasiando com essa horrível ideia, e quando o dia chegou, revestido de frio e costumeiro silêncio, abafei um fraco pedido de socorro, rezando para que, da mesma forma que veio, este dia se fosse, e que eu pudesse resgatar do limbo minhas próprias palavras e dizer àqueles que ficam onde tudo isso dói, para que, depois que todo este rebuliço passar, algo bonito venha e floresça em seu lugar.

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Julia Hor-Meyll
Revista Subjetiva

leitora, escritora, aspirante a roteirista, tradutora, uma amante das palavras. // reader, writer, aspiring screenplayer, translator, a lover of words.