Francisco Brennand

Jil Soares
Revista Subjetiva
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14 min readJan 28, 2021

Mariana Brennand Fortes

Provocação Criativa e Consultoria: Iago Aguiar — Social Media, responsável pela página @tiodosdiscos Revisão Textual: Poeta Clauzie Ferreira Agradecimentos à TV Atelier pelo vídeo disponibilizado e à Marcele Souto Yakabi - Setor de Pesquisa e Acervo da Fundação Bienal de São Paulo.

Pôster — Divulgação

O documentário “Francisco Brennand”, dirigido por Mariana Fortes Brennand, cineasta brasileira e sobrinha — neta do artista, é um mergulho na intimidade do pintor, escultor e ceramista pernambucano Francisco Brennand, a partir das memórias descritas em seus diários, uma tetralogia: “O nome do Livro” (três volumes) e “O nome do Outro” — obras organizadas e lançadas por Mariana Fortes Brennand, em 2016.

Francisco Brennand — doc. Completo

*O documentário fora disponibilizado gratuitamente pela Oficina Brennand no canal do Youtube na semana de homenagens ao artista em dezembro de 2020.

A inspiração para escrever seus diários surgiu ao ler “Noa noa”, diário do artista plástico pós-impressionista Paul Gauguin, em uma viagem que fazia com sua esposa, a poeta Déborah Brennand, à Paris em 1949, a bordo de um navio. Brennand estava com 22 anos de idade. Essa estreiteza familiar, da qual faz emergir das palavras do seu diário o filme “Francisco Brennand”, lançado no ano de 2012, está para além dos laços consanguíneos. É o registro ampliado por uma lente, sem que a sua dimensão esteja somente mensurada em repouso, detida por uma força estática, exercida por paredes de pavilhões ou galerias.

Em entrevista concedida à pesquisadora em Processos e Procedimentos Artísticos, Camila da Costa Lima, para o seu livro: “Francisco Brennand: aspectos da construção de uma obra em escultura cerâmica”, Brennand ratifica sobre a relação de suas criações com o mundo hierático:

Aproximar a cerâmica do feitiço não é uma associação ocasional, e sim uma realidade, embora uma realidade que me escapa, sobre a qual não tenho nenhum poder. […] Quando faço cerâmica, não tenho pátria, minha pátria é o abismo pelo qual vou resvalando sem saber o que encontrarei no fundo. (BRENNAND, 2005).

Com sua austeridade astuta e alegórica, que se assemelha à peraltice de um deus, seu trabalho, qual um pélago, ergue-se sobre os nossos olhos feito carpintaria abissal, consubstanciando fogo e barro em fábula mítica, nos convidando adentrar em um universo de olaria permeado de seres imaginários. A bruma de calcinação que nos toca o espírito, nos eleva e pasma diante do báratro faraônico que é o todo da obra de Brennand; esse mar egípcio de dessemelhanças.

Oficina Brennand

O documentário inicia com Brennand no escritório organizando seu material de trabalho sobre a mesa, ao que parece ser tubos de tintas acrílicas. É noite, o enquadramento é barroco e os grilos cricrilam do lado de fora da oficina. Uma cartela surge na tela:

…Desde 1971, Francisco Brennand vive isolado numa olaria herdada de seu pai. A única testemunha de sua jornada solitária é o diário que começou a escrever aos 22 anos.

Brennand em seu escritório

O artista levanta o que seria um esboço de uma pintura inacabada no cavalete, limpa o pincel com um pano e sai de cena. A noite escurece por completo, a tela e os grilos cricrilam por todo o ambiente. Uma cartela surge na tela…

Quando propus a Francisco que me deixasse documentá-lo, ele me disse que pouco tinha a falar. Foi até sua escrivaninha, destrancou a última gaveta e me entregou o seu diário.

O Discurso aos Peixes ou O pouso dos Voos Desconhecidos

Coluna de Cristal — Parque das Esculturas — Molhe Porto do Recife

O Parque das Esculturas fora inaugurado em 29 de dezembro do ano 2000, como parte integrante do projeto: “Eu vi o mundo… Ele começava no Recife” em comemoração aos 500 anos do “Descobrimento do Brasil”. O projeto também é uma homenagem ao artista plástico Cícero Dias, amigo e conterrâneo de Brennand, que assina a obra Rosa dos ventosa qual se encontra no piso da Praça do Marco Zero, em Recife.

O título do projeto é uma explícita referência a um dos trabalhos mais polêmicos de Cícero Dias, feito em homenagem ao político abolicionista, escritor e diplomata Joaquim Nabuco.

Na época de sua exibição em 1931, no Salão Revolucionário ou Salão dos Tenentes na Escola Nacional de Belas Artes atual (EBA), no Rio de Janeiro, sofreu censura por retratar mulheres nuas e por uma ordem superior (Senador da República) foi pedido que se cortasse parte da obra (cena das mulheres despidas). A pintura só veio a público novamente, segundo dados da Associação Brasileira dos Direitos de Autores Visuais (AUTVIS) na *8ª Bienal de São Paulo, em 1965, medindo cerca de 2 metros menos que o seu tamanho inicial, que era de 15 metros. A obra é um painel de 13 metros de largura e 02 metros de altura, pintado sobre papel kraft, entre os anos de 1926 e 1929.

Canal
TV Atelier em Casa

Por coincidência do destino, ou não, a vida reuniu mais uma vez, numa espécie de elã, esses dois artistas; não para tratar de viagens à estudos fora do Brasil, como ocorreu em 1949, quando, por influência de Cícero Dias, Brennand viaja à Paris para aprofundar seus estudos em relação à pintura, mas, dessa vez para a celebração de um momento histórico à arte brasileira — a inauguração do Parque das Esculturas Francisco Brennand.

Cícero Dias sofreu com a censura dez anos depois de sucedida a Semana de Arte Moderna em 1922”. Teve a sua obra “Eu vi o Mundo… E ele começava no Recife” literalmente amputada pelas autoridades públicas da época e confinada nos porões do Museu Nacional de Belas Artes por mais de 30 anos. De forma semelhante, Brennand sofreria uma tentativa de censura, não pelo fato de sua obra evocar o universo feminino através da nudez, mas por erigir em pleno porto recifense uma torre com 32 metros de altura, esculpida em argila e bronze acompanhada por um “Ovo Cósmico” em sua base — a tão execrada e admirada “Coluna de Cristal”, o nome é uma homenagem ao arquiteto e paisagista Roberto Burle Marx, responsável pelo desenho paisagístico do jardim da Oficina Brennand, quando o lugar ainda era um fundo de fábrica, um depósito de argila a céu aberto.

O então prefeito da época, Roberto Magalhães (PFL)e Jane Magalhães, sua esposa, tentaram impedir, sem sucesso, a realização do suposto “obelisco”. A ação arbitrária do casal junto a alguns veículos de imprensa fez com que o projeto original sofresse alterações na sua paisagem estética, a fim de que se adequasse e atendesse moralmente à ideia de arte consumida pela tradicional família recifense, por considerar o tal formato da “Coluna de Cristal” obscenamente fálico.

Todo esse alvoroço repercutiu de forma negativa no dia da inauguração do Parque das Esculturas. Essa situação fez com que Brennand pousasse no mar em um voo desconhecido e manifestasse o seu discurso aos peixes, conforme relatado em seus diários e narrado no documentário pela atriz pernambucana Hermila Guedes:

Recife amanheceu sem sol, naquela manhã quente de dezembro. Na hora marcada, Francisco estava a posto no “Marco Zero” da cidade para a inauguração do seu Parque de Esculturas. O lugar estava vazio; não havia conhecidos nem autoridades locais. Ele tirou um pequeno caderno do bolso e se dirigiu a beira do mar. Ao som das ondas se arrebentando sobre as pedras, Francisco pronunciou o seu discurso aos peixes.

Brennand, em sua fala, recria a fábula que permeava o imaginário coletivo dos desbravadores de Novos Mundos (os europeus), evocando à lendária Escola de Sagres: os desejos de conquistas, perigos e lendas cartografados pelos conquistadores do Velho Mundo. O Parque das Esculturas seria a voragem ovular argilada em cal e bronze desse espelho — portal.

É desse encontro de mundos que surge o reflexo da reconstrução territorial dos campos místicos, povoados por botos, peixes-espadas, serpentes e gaivotas. Abrindo assim, uma fissura espaço-temporal no horizonte que se desvela aos navegadores, como a mulher o seu ventre, para dar existência à vida, ofertando ao cosmo possibilidades para se criar novas narrativas.

[…] Nada melhor como símbolo desse encontro do que a ideia de uma coluna encimada pela elipse de uma flor, cujo o nome é Cristal. Os conquistadores encontraram a árvore da vida, catedral de folhagens, guardando em seu âmago o OVO resplendente da eternidade, disse Brennand.

Parque das Esculturas Francisco Brennand, Coluna de Cristal Fonte: O Recinto Arcano

[…]Pedro Álvares Cabral é comparado ao heroico Odisseu. Ele soube, tanto como o herói de Homero, escapar do Canto das Sereias, figuras representadas neste conjunto de esculturas, como mulheres-pássaros, com suas bocas desmesuradamente abertas a clamar pela sedução dos marujos. (Brennand, 29/12/2000) Ligia Maria Bremer — “As sereias com Kafka, Brennand e Blanchot”

As sereias: Cora, Severina, Justina, Marina, Alberta. A coluna branca é o Mistério do Próximo Século ou o Pouso dos Voos Desconhecidos. Fonte: O Recinto Arcano

Voz off da narração do documentário:

Ainda molhado da água do mar, Francisco entrou no primeiro táxi que avistou. Seu destino… O bairro da Várzea do Capibaribe. Uma longa estrada de terra batida separava a cidade do Recife do esconderijo do artista.

“-Parece o Egito!…”, exclamou o taxista.

Tocado pelas palavras do homem, Francisco confessou que seu único desejo era ser cremado, e que suas cinzas retornassem dentro de um ovo de cerâmica para o único lugar que valia a pena viver: o seu templo, a sua cidadela, a Oficina Brennand: “…sem pirâmides e nem esfinges; uma civilização perdida”.

Oficina Brennand — Alamedas do Templo ao Ovo

O Forno e a Tela: Suportes dos Enunciados Proféticos ou Lugar de Renascimentos Totêmicos

Forno: Prometeu

Mais um abutre está prestes à nascer […] A escultura (acima) entrou medíocre no forno e depois das sucessivas queimas saíra com 10.000 mil anos.

O “princípio de iceberg” de Brennand está no forno e o fogo seria os sete oitavos submergidos, onde se reserva, ou está inicialmente preservado, como um éter que ainda não entrou em contato com o vento. Está conservado numa rasura de encontros submersos. É a potência ativa da percepção transformadora que extrai da tinta do fogo quase tudo que não seja ou esteja em lume argiloso.

Incinerar o barro na busca ancestral de uma rostificação ubíqua, que gesticule uma gênese diastólica entre os eixos discursivos do imanente e do transcendente como uma prefiguração do devir humano na espectralidade da quase-matéria, uma austeridade abutriana, é ou pode ser o “momento em que o homem passa a ser um demiurgo, passa a criar e através do fogo consolidar essa criação”.

O forno é o córtex verbal, antropia enquanto princípio criativo, nascente larval dos seus processos artísticos. Suporte sacrificial de seu lampejo e lugar de invocação do sagrado na carpintaria fenomenológica que transcende a forma de suas aparências, ao espaçar os eidos das imagens e tingir o barro de rubro fogo. Ainda que o acontecimento de suas obras decline-se na lógica inadequada das ferramentas de suas errâncias — obra maldita, Brennand, no momento em que está apresentando e explicando algumas de suas pinturas, faz um paralelo de reflexão entre a cerâmica e a pintura e problematiza:

Eu nunca me preocupei com Unidade, porquê a sensação que eu tenho é de vários, nós somos vários ou nós somos todos a mesma coisa, nos confundimos. Essa coisa de você ser cada vez você próprio, inconfundível… Começam a dizer disto da minha escultura, como não gostam da minha escultura é muito fácil de dizer ‘aquilo é um Brennand!’ Sabe por quê, porque eles não gostam! Quem não gosta das minhas esculturas, diz: — ‘Isso aí é um Brennand!’. (BRENNAND, 2012)

Pinceladas de Fogo: O quadro que não foi ao Forno

Oficina Brennand

Brennand sentado em seu escritório lê a carta que o seu pai lhe escreveu no dia vinte e um de dezembro de mil novecentos e setenta e oito. Na carta, o pai ressalta as qualidades e o talento do filho para a arte da pintura. Brennand se emociona, um desencanto carrega a voz de Francisco ao lembrar que o seu pai, Ricardo Brennand era a única pessoa da família que ainda o visitava com uma certa frequência na Oficina. Trecho da carta:

Francisco, Você, o arqueólogo que desenterrou peças de milenários feitios, e deu às mesmas o seu caráter pessoal, no poderoso cadinho do seu cérebro criador, teve a inspiração de conservar, ora escondido, ora bem visível, o erotismo, que não morre, enquanto existir o homem sobre a terra. Você, que transformou num templo de arte plástica essas velhas e desmanteladas ruínas de uma antiga olaria hoje, um verdadeiro e inigualável museu. Agora, em Camocim de São Félix, esse pequeno paraíso, de belíssima paisagem, onde impera o silêncio, tão propício para a criatividade, volta a pintar. E que pintura! A meu ver, a melhor que tem saído de uma palheta. Pintura cheia de força, de maravilhoso colorido[…]Acredito no seu grande sucesso como pintor: quem sabe! Talvez um dos maiores do Brasil. (Carta escrita em 1978 por Ricardo Brennand, pai de Francisco Brennand, apud Ferraz, 1997, p.11)

Enquanto na cerâmica, ele representa de modo muito pessoal a inspiração de um dos maiores representantes do Movimento CubistaPablo Picasso; apresentando em sua escultura quebra da perspectiva, desvinculando a peça da ideia de realidade, experimentando outras formas de se pensar o tangível, é na pintura que Brennand expressará uma forte influência notadamente pelas obras do ‘Feiticeiro de HivaPaul Gauguin ao retratar de modo recorrente e expressivo cenas do cotidiano, mulheres performando um erotismo impregnado de nonsense simbólico e subjetivo, imbricando as suas telas de intensidade, luz e emoção.

A presença de Gauguin era algo tão forte sobre a vida e o trabalho de Brennand, que no ano de centenário de sua morte, em oito de maio de dois mil e três, Brennand homenageia o pintor com uma lápide fixada na área externa do Templo do Sacrifício com o seguinte texto:

Homenagem a Paul Gauguin no centenário de sua morte, acontecida no dia oito de maio de mil novecentos e três na Ilha de Atuona, no arquipélago das Marquesas.

Ao terminar de ler a lápide ele diz:

Isso aqui é como se fosse uma lápide e aqui tá a figura dele, que aliás eu o chamo “O Feiticeiro”. Ele tem um quadro feito quase no fim da vida, talvez um dos últimos quadros que não é um autorretrato, que ele chama ‘o feiticeiro’ .

Cena do beco onde Francisco costumava fotografar suas modelos

Voz off: …Francisco passou a manhã trancado em seu atelier às voltas com um quadro que não conseguia terminar. O estudo já estava parecido com a modelo e ele não via nada à acrescentar, mesmo assim não ficou satisfeito. O quadro foi pintado sobre papel branco e ainda precisaria de muitas sobreposições até que a figura despertasse o interesse de Francisco.

A câmera que olha a pintura fixamente em um estado encantado, recua agora lenta e dispersivamente tentando conter o tempo que se escoa diante do quadro que não foi ao forno. Brennand desabafa com Hermila Guedes, narradora e agora sua modelo:

Se pudesse passaria o quadro no fogo… Numa só passagem as chamas o salvariam, a pintura ficaria tão misteriosa, quanto as cerâmicas. […] Gostaria de ter a liberdade de ousar mais, entende Hermila? A forma feminina me seduz muito e quando eu pinto eu faço parecido né?!

Brennand finaliza o quadro que não foi ao forno. Modelo: Hermila Guedes narradora de seu diário.

Brennand caminha em direção a um salão, que se assemelha a um acervo repleto com seus estatuários, e ali diante de um busto discursa sobre as duas proeminências da escultura e da liberdade de experimentar com a cerâmica, autonomia que não encontrará na pintura. Aponta para o que seria o peito da escultura e diz: “O que é que será essa? Não será o pescoço que ainda longo, que estufa aqui ou serão os peitos contidos por esse cilindro estranho, que também não é o corpo e não é nada?!” E conclui: […] ‘ em termos de pintura eu não faço isso, mas em termos de cerâmica eu faço o que eu quero, aí eu sou picassiano.’, (da composição do busto, faz nascer uma ideia de mulher).

Salão de Esculturas — A ideia de Mulher

O Templo do Sacrifício ou Quando Deus soluçou o Mar e bebeu o Homem - Barro

Templo do Sacrifício — Homenagem aos povos Sul — Americanos e a Paul Gauguin

Um retroprojetor exibe imagens de arquivo pessoal de Brennand. Momentos em que a velha fábrica ganha contornos de um imponente templo das artes plásticas. Ao caminharmosi88 em direção ao Templo do Sacrifício, Brennand explica como se deu a construção do referido espaço tendo o seu piso todo revestido em pedra de ilhós, adquiridas de uma antiga casa funerária: “ — o dono da casa funerária estava trocando os pisos por um material mais moderno,” disse Brennand.

O lugar onde hoje é o Templo do Sacrifício fora um galpão destelhado, em ruínas. Brennand diz não ter reconstruído o teto do galpão pois lembrou que no Peru, em uma região que quase não chove, as casas não possuem telhados. O Templo do Sacrifício recebeu esse nome como uma homenagem testamentária que o artista fez referente aos povos sul-americanos, que foram massacrados pelos invasores europeus.

Nas imediações do Templo do Sacrifício iremos encontrar esculturas dedicadas ao Imperador dos Astecas, no México — Moctezuma e ao Rei dos Incas no Peru, Atahualpa. Ainda questionado sobre a ausência de uma cobertura no teto do Templo-Galeria, Brennand gesticula apontando para dentro do Templo do Sacrifício e diz:

“As esculturas irão receber sol e chuva, atravessar noite e dia e elas vão durar para sempre, se não forem destruídas. Só a mão do homem, pode destruí-las!”

Área interna do Templo do Sacrifício — Atahualpa

O Futuro Pertencerá a um Coração Antigo, se for Conservado em um Ovo de Cerâmica

Autorretrato de Brennand

A câmera desliza por um dos lugares mais íntimos da Oficina Brennand; o quarto de Francisco. Iluminado pela luz tênue do abajur. A sua cama forrada com um lençol vermelho, os livros, postais e revistas espalhados sobre a mesa. A música pontua ambiência de solitude, a sensação de pertencimento com o espaço cresce sequencialmente a medida que a câmera dirige-se para outros cômodos da Oficina. Todo o cenário inspira despedida.

Tomado por um presságio, no dia onze de junho, data de seu aniversário, Brennand instala um busto de seu autorretrato nos Jardins da Academia. A escultura é de expressão inanimada. E ao que parece é o melhor presente que ele poderia receber. Em um lado da escultura ele escreveu o ano de seu nascimento: 1927, do outro lado deixou um espaço em branco…

Euci, seu assistente, espantado com toda a ritualística encenada por Brennand ao evocar a morte em pleno dia em que se comemoraria seu nascimento, exclama assustado de que aquela escultura seu assemelhava a uma lápide!

Ao que Brennand responde:

que seu desejo era permanecer ali para sempre. E confessou ao amigo que quando seu pai lhe entregou as chaves da velha fábrica teve a certeza de que ele entrava ali para nunca mais sair.

Brennand fotografando Hermila Guedes em sua Oficina

Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand morreu aos 92 anos de idade, teve o corpo cremado e atendendo o seu desejo, suas cinzas foram espalhadas na Oficina Brennand.

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Jil Soares
Revista Subjetiva

Bacharel em Cinema pela UFBA. Colaborador: Revista Subjetiva e Revista Impublicável ex - editor de conteúdo da Revista de Arte GRAVIDADE