“Good Omens” — E se o Apocalipse puder ser evitado?

Mateus Pereira
Revista Subjetiva
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3 min readJul 11, 2019
(Créditos: Sophie Mutevelian/Amazon)

Em junho passou a circular na internet uma notícia um tanto quanto peculiar que virou piada. Chateado com a série “Good Omens” (ou Belas Maldições), o grupo cristão norte-americano Return To Order criou uma petição online para que a Netflix cancelasse o seriado. Acontece que a adaptação do livro de Neil Gaiman e Terry Pratchett é uma produção da Amazon, que respondeu “a solicitação” com muito bom humor.

Ok, Amazon, não queremos que nenhuma seja cancelada, okay ;)

Risadas a parte, a notícia serviu para mim como um marketing reverso. Afinal, se os evangélicos querem proibir, é um bom motivo para assistir. E ao final da curta temporada de 6 episódios, eu só fiquei querendo que a Amazon renovasse a minissérie para mais um ano, pois Good Omens é sensacional.

Mas afinal, qual o motivo de os cristãos ficarem tão aborrecidos? Bem, a série apresenta uma nova abordagem para o Fim dos Tempos. Enquanto exércitos celestes e infernais anseiam pelo Armagedom, o anjo Aziraphale e o demônio Crowley se unem para que o Apocalipse não se concretize e a vida na Terra continue por muito tempo.

Os dois protagonistas se conhecem desde o início do universo e, ao longo dos séculos, desenvolveram uma amizade camuflada em nosso planeta. Aliás, a sequência que mostra os encontros de ambos desde a criação, passando pela morte de Cristo, Revolução Francesa e Segunda Guerra é uma das melhores de toda a série. Voltando a trama, Crowley foi o responsável por trazer o bebê Anticristo para os planos terrestres. No entanto, há uma confusão durante a troca das crianças e o pequeno tinhoso é enviado para uma simplória família no interior de Londres.

Anos mais tarde, ao perceberem a trapalhada, ambos ocultam o fato de seus superiores, enquanto buscam encontrar o verdadeiro garoto, na expectativa que ele não deseje o domínio total sobre o mundo onde agora vivem. Quem também tem esse objetivo é Anathema, descendente da bruxa Agnes Nutter, que profetizou diversos acontecimentos que envolvem o Armagedom e os personagens principais.

Que elenco, amigos!

Aziraphale (Sheen) e Crowley (Tenant). É pecado shippar um anjo e um demônio? (Divulgação/Amazon)

Em vista desse contexto de calamidade, você espera um clima de suspense e terror, certo? Não aqui. A comédia e a fantasia dão o tom da produção, que é temperada com o suprassumo do ácido humor britânico. O roteiro traz o sarcasmo nos momentos certos e não se poupa de rir dos costumes do povo inglês, dos pensamentos das pessoas religiosas e dos perrengues cotidianos que todos nós passamos.

Em Good Omens todos os núcleos funcionam, seja no Céu, no Inferno ou na Terra. Desde o grupo das crianças que andam com Adam (que desconhece o fato de ser o filho do Diabo), aos 4 Cavaleiros do Apocalipse, cada um tem seu tempo necessário de tela para desenvolver suas personalidade e gerar o impacto necessário para a trama. E claro, a química entre os protagonistas David Tennant e Michael Sheen é espetacular. Depois de muito tempo na Terra, demônio e anjo passam a se encantar por prazeres mundanos, como carros e livros. E a cumplicidade e afeto entre os dois só cresce ao passar dos episódios, apesar da resistência deles, o que rende momentos hilários.

Por falar em elenco, o casting da série está repleto de artistas incríveis. Francis McDormand é a narradora (e Deus), John Hamm é o arcanjo Gabriel, Mireille Enos representa a Guerra e Bennedict Cumberbatch dá sua voz ao coisa ruim. Devo admitir que sempre tive o receio de assistir filmes e séries com temática sobrenatural. Talvez por um passado influenciado pela religião e o medo de sonhar com criaturas perturbadoras. Good Omens não só quebrou esse paradigma como conseguiu ser uma das melhores obras televisivas de 2019. Vale a pena!

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Mateus Pereira
Revista Subjetiva

Jornalista tímido que gosta de escrever sobre cultura pop e aleatoriedades da vida. Reclama muito no twitter. E ama sorvete com batata frita. IG: m_pereiras