Impulsos Heroicos.

Sobre o péssimo hábito de querer salvar as pessoas.

Danilo H.
Revista Subjetiva
Published in
4 min readApr 15, 2019

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Você sabia que é muito difícil achar um super-herói? Foi um grande golpe de sorte esbarrar contigo aqui, mas considero que isso era uma questão de tempo. Finalmente nos encontramos.

Quase tive a não-tão-brilhante-ideia de oferecer uma recompensa pela sua captura… não me leve a mal, eu só quis encontrar um caminho mais fácil para te encontrar. O motivo? Oras… está na estampado na sua cara.

Não importa quantas máscaras, capas, disfarces e apetrechos você utilize, não há a mínima possibilidade dessa alcunha ser levada adiante… lamento do fundo do meu coração, mas você não é um super-herói de verdade.

Por incrível que pareça eu não estou aqui para criar uma situação desagradável, ironicamente eu só passei para te dar uma mãozinha (mesmo você não tendo pedido)… eu adoro esse seu olhar de “está tudo sob controle”, mas nós dois sabemos muito bem que não está nem perto.

Notei à distância sua boa vontade, mas ela está te destruindo pouco a pouco e você sequer percebeu… Vamos começar do princípio?

As pessoas não precisam ser salvas. Esse papel não cabe a você.

Pois é… um belo dia você tomou para si a não-tão-brilhante ideia de consertar as pessoas e então caiu num beco sem saída, de repente os problemas dos outros se tornaram os seus problemas.

Gradativamente você foi colocando os sentimentos dos outros na frente dos seus e a essa altura suponho que você sequer se conheça… perdão, me equivoquei?

Você já parou para pensar que grande parte dos seus problemas são, na verdade, os problemas dos outros? Problemas familiares, financeiros, amorosos, psicológicos… tudo ou quase tudo.

Em um dado momento ocorreu uma metamorfose e você se tornou uma esponja gigante que absorve tudo que toca e ainda tem a coragem de considerar isso um ato incrível… bem, sabemos que não é bem assim.

Por algum motivo isso te satisfaz de alguma maneira, ajudar o próxima a todo custo mesmo que isso levemente te faça ruir, quer um exemplo?

Mesmo após uma nítida sucessão de fracassos amorosos, você continua extremamente empenhado em consertar as pessoas ao seu redor… de repente noto sua heroica pessoa absorvendo todo o tipo de energia (sobretudo as mais pesadas e sombrias).

Você se apaixona pela ideia do que as pessoas podem se tornar ao seu lado e, sendo bem realista, isso não faz sentido algum.

Sufocado de expectativas não realizadas, vejo você (quase) voando de relacionamento em relacionamento em busca de uma carência a suprir.

Sua órbita se encontra repleta de pessoas mal resolvidas, instáveis emocionalmente, controladoras, problemáticas, preconceituosas, neuróticas e que não te valorizam, porém você tenta salvá-las diariamente… esse processo você estranhamente chama de “amor”, será que é isso mesmo?

“A Vida Secreta dos Super-Heróis.” Por: Greg Guillemin

Abrir mão de si mesmo dessa maneira não te torna heroico, na verdade esse é só um dos disfarces que você usa para tentar se sentir amado.

Acredito que alguém aqui levou o papo de “dar para receber” longe demais, na verdade você deturpou o real significado disso em prol de um tipo de amor que ainda não está nascendo de dentro para fora.

Eu bem sei que você gostaria de ser salvo de tudo isso, que alguém aparecesse na próxima esquina e dissesse que tudo ficará bem… não é irônico que quanto mais você insiste nessa atitude, menos alguém aparece ou se preocupa?

Infelizmente não é assim que as coisas funcionam, não basta dar amor e afeto e esperar sentado a retribuição do universo, às vezes despejaremos muito de nós sobre aqueles que sequer se importam.

A única pessoa que você pode salvar por aqui é você mesmo.

Eu não irei te desencorajar a ser um bom samaritano, mas sugiro que a tentativa de salvar as pessoas seja descartada… aliás, muitas dessas pessoas estão bem do jeito que estão, se podemos ajudar quem quer ser ajudado, qualquer coisa fora disso não compete a nós.

Eventualmente as suas boas ações regressarão, mas geralmente não da forma que esperamos… não faz sentido agora, mas você sentirá a diferença quando a hora chegar.

Até lá, aposente a sua capa e o seu uniforme, eles não representam 1% de quem você é. Exercite a bondade autêntica e dê coisas boas para o universo sem focar na retribuição, não force as situações, não salve as pessoas.

O mundo está cheio de redentores e agora que sua identidade secreta foi comprometida, eu espero que você pondere sobre isso.

Deixe seu codinome para trás.
faça o que estiver ao seu alcance (de preferência, sem máscaras).

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Danilo H.
Revista Subjetiva

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.