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Inimigo do Fim

Ou “Quando prolonguei algo fadado ao fim”.

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Passei na guarita do seu prédio e deixei uma carta na caixa de correspondências do seu apartamento.

O rapaz da administração perguntou se eu gostaria de deixar um recado e eu disse que tudo que eu precisava dizer estava na carta. O agradeci com um sorriso sincero e peguei o caminho de volta.

O longo caminho de volta.

Ele chegou tarde da noite e atordoado em seu apartamento, as correspondências em uma mão e o seu celular na outra.

Jogou ambos na mesa da sala, trocou de roupa e retornou para olhar o maço de cartas que recolheu na administração.

Contas, boletos, propagandas e… um envelope bege com uma grafia escrita a mão.

Procurou informações no remetente, porém só havia a letra “K.” grafada no verso. Então decidiu abrir o envelope:

“Fiquei matutando por horas se eu deveria ou não deixar esta carta na sua casa, pois uma mensagem via aplicativo ou um e-mail não seriam suficientes.

A entrega seria instantânea, mas a minha ânsia pela sua resposta seria, digamos, fatal.

A questão é que não preciso que você responda esta carta… e acredite, me arrepio todo ao escrever essas palavras.

Somente hoje me dei conta conta de que eu fiz de novo.
Misturei as coisas.

Levei um tempo até assumir para mim mesmo que às vezes digo, penso e faço coisas com o intuito de te manter por perto. Penso que isso começou quando eu percebi que ser eu não bastava.

Jurei que te perderia, porém acabei me perdendo de mim mesmo.

Fiz de tudo por você. Tentei provar através de ações que eu “valia a pena”. Em algum dado momento supus que se provasse meus pontos, algo seria diferente.

Erro meu.

Então me joguei aos seus pés e tentei alcançar algo que não existia (e para isso fui alguém que não sou).

Nos última meses estive em queda e hoje acertei o chão com força.
O baque foi tão forte que acordei deste transe e percebi que estive sozinho o tempo todo.

Aqui não tem você e nem a pessoa que eu tentei ser… isso para não mencionar a pessoa que pensei que você era.

Notei então que prolongar o fim não amenizará a necessidade que ele ocorra.
Ser um inimigo do fim me tornou inimigo de mim mesmo.

Te escrevo para, primeiro, entender o que foi tudo isso e também te mostrar o que aconteceu por aqui.

O menos culpado de tudo isso foi você.
Te obrigar a algo seria como pedir para que você não fosse você (e só agora entendo isso).

Antes eu estava voando pelos ares, hoje me encontro cimentado ao chão enquanto te escrevo.

Escrever sobre aquilo que nunca aconteceu é mais difícil do que parece.

Contudo, por você, fiz esse esforço… seria errado sair de cena sem te dizer o motivo.

Fim se escreve com três letras muito pesadas.

Aliás, descobri ao longo desse processo que algumas coisas precisam dar errado para dar certo. Obrigado por isso. Agora posso voltar para mim.

Ironiconicamente te deixarei aqui com as minhas palavras, espero não ter te assustado.

Terei sempre um carinho ímpar por ti.

De coração,
K.

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Danilo H.
Revista Subjetiva

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.